Título: Juiz interroga caseiro
Autor: Leandro Bisa
Fonte: Jornal do Brasil, 17/01/2005, Brasília, p. D6

O crime que abalou Brasília em dezembro começa a caminhar na Justiça hoje. Os assassinos confessos de Maria Cláudia Del'Isola, 19 anos, serão interrogados pelo juiz Luiz Carlos Miranda. Bernardino, às 9h, Adriana, às 14h. É o ponto de partida do processo, após as investigações sobre a barbárie e a prisão dos acusados. Maria Cláudia foi estuprada, torturada e enterrada em sua casa, no Lago Sul. O assassinato da universitária marcou um ano repleto de crimes cruéis. Os moradores de Brasília, mais do que se surpreender, se escandalizam com os assassinatos grosseiros ou causados por motivos banais. Não tanto pelos crimes em si, mas por ocorrerem com freqüência cada vez maior. É o caso do engenheiro Paulo Lins Tiali, 49 anos.

- Essas coisas estão acontecendo cada vez mais perto da gente. Antigamente, notícias como essas, mostrando crimes sádicos e cruéis, vinham de outro país. O mais próximo que a desumanidade chegava era ao Rio de Janeiro ou alguma cidade bem afastada. Só em 2004 houve tantos diversos crimes horríveis - comentou o engenheiro, morador da Asa Sul há 32 anos.

Paulo lembra o assassinato do alemão Joachim Gunter Mosler, de 46 anos, em Taguatinga, ocorrido em março. O alemão viajou ao Brasil para conhecer a família de sua esposa, a brasiliense Patrícia Mosler Vieira, 23 anos. Os dois se casaram na Alemanha. Viveram juntos por oito meses, quando ela o convidou para conhecer os pais.

Patrícia chegou ao Brasil uma semana antes de Joachim. Interessada em faturar o prêmio do seguro de vida do marido, orquestrou seu assassinato. Foi até uma praça, em Ceilândia, e viu um tatuador de rua. Pediu para que ele fizesse um desenho em suas costas. Enquanto o desenho era feito, Patrícia perguntou ao homem se ele teria coragem de matar. A resposta foi positiva. Fizeram um acordo.

No dia 2 de março, Patrícia levou o marido para passear no Pistão Norte de Taguatinga. Dois rapazes, um de 17 anos, apareceram e deram nove facadas no alemão. Fugiram levando sua carteira, o relógio e a bolsa de Patrícia. A idéia era simular um assalto. Patrícia pagou R$ 2 mil aos dois, mas, quatro dias depois, todos foram presos.

Outro crime cheio de detalhes sórdidos, também em março, foi praticado por Júlio César de Souza, de 28 anos. Ele matou a namorada, Janaína de Oliveira, 24 anos, depois de uma discussão boba. O crime aconteceu no Recanto das Emas. Júlio queria sair para uma festa. A namorada implicou e o casal iniciou uma briga física. Julio usou uma calça jeans para estrangular Janaína. Enrolou o corpo num cobertor e o escondeu em baixo da cama. Passou três dias dormindo sobre a cama, como se nada tivesse acontecido.