Título: Alencar: caímos em armadilha
Autor: Otto Filgueiras
Fonte: Jornal do Brasil, 17/01/2005, Economia, p. A17

O vice-presidente da República, José Alencar, mais uma vez surpreende positivamente os brasileiros com suas críticas à política e ao modelo neoliberal do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No prefácio do livro ''Novo Desenvolvimentismo -- Um projeto nacional de crescimento com eqüidade social'', organizado pelos economistas João Sicsú, Luiz Fernando de Paula e Renaut Michel, do Rio de Janeiro, José Alencar diz que, ''em Política, assim como nas Ciências Sociais e, particularmente, na Economia, não há certezas absolutas. O que há de relevante neste livro é que ele questiona uma sabedoria convencional que tem sido reprovada no teste da realidade, não se deixa embotar pela mediocridade do pensamento único, que prevaleceu no Brasil, sobretudo nos oito anos do governo passado. Há aqui um esforço genuíno para escapar das armadilhas econômicas a que fomos levados''. Entre os economistas que escreveram ensaios para o livro estão os professores Luiz Carlos Bresser Pereira, ex-ministro dos governos de José Sarney e de Fernando Henrique Cardoso; Carlos Eduardo Carvalho, da Faculdade de Economia da PUC de São Paulo e ex-coordenador do programa de governo do PT na campanha presidencial de 1989; Paulo Nogueira Batista Jr.; Fernando Cardim de Carvalho e Leda Maria Paulani. Todos críticos do modelo neoliberal implantado no Brasil desde o governo do então presidente Fernando Collor de Mello, em 1990.

José Alencar, em várias oportunidades, tem chamado a atenção para a insustentabilidade das taxas de juros no Brasil. No prefácio do livro, ele explica que tem falado como cidadão, como empresário e, principalmente, como político, mas que ''na realidade, é a longa experiência empresarial que me autoriza a condenar esse despropositado regime de juros que empobrece nossa economia, levando milhares de empresários à falência e milhões de trabalhadores ao desemprego''. Segundo Alencar, ''paralelamente aos juros e a eles ligada, há outra questão que precisa ser tratada: a carga tributária, que em 1995, início do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, girava em torno de 28% do PIB e foi elevada a 35%''.

Trata-se de um crescimento de 25%, ou de sete pontos percentuais, diz o vice-presidente, acrescentando, que o PIB brasileiro é estimado, hoje, em R$ 1,5 trilhão, o que significa que a carga tributária aumentou mais R$ 105 bilhões. Ele diz também que no período de 1995 a 2002, a dívida pública ''que girava em torno de 30% do PIB, foi para 55%, um crescimento, em oito anos, de 83%, ou vinte e cinco pontos percentuais e que totaliza R$ 375 bilhões''.

O vice-presidente da República também critica as privatizações de várias empresas públicas brasileiras nesse mesmo período, a exemplo das siderúrgicas, do sistema nacional de telefonia, parte das companhias de eletricidade, da própria Vale do Rio Doce e diz que todas as privatizações ''renderam, aproximadamente, US$ 90 bilhões''. Nas suas contas, o aumento da dívida, a elevação da carga tributária e as privatizações somaram R$ 750 bilhões.

José Alencar lamenta que esse dinheiro não tenha sido utilizado para realizar ''nem mesmo as obras indispensáveis e inadiáveis de infra-estrutura de transporte, como a construção de novas estradas de rodagem, novas ferrovias e hidrovias, onde o potencial brasileiro é imenso''. Ele afirma grande parte desses R$ 750 bilhões foi destinada ao pagamento dos juros e frisa que ''um dos principais motivos que nos levam ao enorme crescimento da carga tributária é o despropositado custo financeiro que pesa sobre nossa dívida, levando mais de um quarto de tudo o que se arrecada em nosso País''.