Título: Lula orienta ministros a partirem para a ação
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 18/01/2005, País, p. A2

Empenhado em fazer de 2005 o ''ano das realizações'', o presidente Luiz Inácio Lula da Silva orientou ontem o governo a sair do discurso e partir para a prática. Embora a reforma ministerial e o impasse em torno da disputa interna no PT pela presidência da Câmara ainda insista em lhe tirar o sono, o presidente começou a semana com a certeza de que deve dar início a uma agenda positiva, sob pena de o governo se perder administrativamente num ano considerado a vitrine para 2006.

Por isso, na reunião da coordenação política do governo ontem no Palácio do Planalto a discussão girou em torno de como o governo vai tirar do papel as prioridades definidas em dezembro do ano passado durante os dois dias de reunião ministerial. Uma das principais preocupações do presidente é intensificar as ações na área da segurança, sobretudo no Rio de Janeiro e no Espírito Santo. Conforme antecipou o Jornal do Brasil ainda em dezembro, esses dois estados terão tratamento especial do governo federal nas ações para reduzir a criminalidade esse ano.

Além das medidas que já estão sendo tomadas - de policiamento reforçado e, eventualmente, uso das Forças Armadas -, o Executivo pretende promover ações paralelas de inserção social e redução das desigualdades no país.

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, foi incumbido de recolher dados de todos os ministérios para organizar um plano de ação integrado com o objetivo de diminuir a criminalidade, um dos calcanhares-de-aquiles do governo, de acordo com pesquisas de opinião pública. O trabalho está sendo gerenciado pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu.

- A questão da violência está inserida na agenda do desenvolvimento - disse Lula, segundo um dos ministros presentes na reunião da Coordenação Política.

O presidente pretende deixar a engrenagem da máquina governista azeitada antes de partir para o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, na próxima semana, quando falará a respeito do combate à pobreza e sobre a execução dos compromissos assumidos com as Metas do Milênio.

Além de deslanchar a pauta administrativa, o presidente espera deixar ao menos engatilhada a reforma ministerial. Hoje, Lula reinicia as consultas aos partidos da bancada governista. Pela manhã, ele deve receber no Palácio do Planalto o presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP), para discutir a participação do PMDB no governo. Os líderes do partido no Senado e na Câmara, senador Renan Calheiros (AL) e deputado José Borba (PR), também participarão da reunião.

O encontro foi acertado na última semana, quando Sarney e Calheiros comunicaram ao presidente Lula o acordo em torno do nome de Calheiros para sucedê-lo na presidência do Senado. Na audiência, Lula também poderá definir em qual ministério acomodará a senadora Roseana Sarney (PFL-MA).

Semana passada, por meio de interlocutores, a senadora fez chegar ao presidente a intenção de assumir o Ministério da Previdência, uma pasta a princípio pouco cobiçada mas que terá um dos maiores orçamentos da Esplanada este ano. Mais de R$ 120 bilhões. Outras opções seriam os ministérios das Comunicações, hoje sob a batuta de Eunício Oliveira, e do Turismo, controlado por Walfrido Mares Guia (PTB). Mas nem Roseana deseja ocupar as Comunicações, nem o PTB pretende abrir mão do Turismo. Lula ainda deverá receber no decorrer do dia parlamentares do PPS governista.

O imbróglio em torno da presidência da Câmara fez Lula colocar um pé no freio em relação a reforma ministerial. Há 15 dias, o presidente imaginava anunciar o novo arranjo da Esplanada dos Ministérios até o fim desta semana. Agora, estuda deixar as alterações para depois do carnaval.