Título: Contagem regressiva
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Fonte: Jornal do Brasil, 18/01/2005, Editorial, p. A10

O relatório divulgado ontem pela ONU com propostas para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio constitui eloqüente alerta às nações - ricas ou não - sobre os resultados das estratégias de combate à pobreza e à fome no mundo. O principal deles: a 10 anos do prazo estabelecido para a conquista de metas sociais estabelecidas em 2000 - como a redução à metade da pobreza e da fome, da mortalidade materna e infantil e dos casos de HIV/Aids -, vêem-se perspectivas nebulosas em muitos países, especialmente na África subsaariana. O relatório preparado pelos consultores da ONU vai direto ao ponto: o mundo precisa enfrentar com mais seriedade o desafio a que se propôs. De acordo com o documento, mais de 500 milhões de pessoas serão retiradas da extrema pobreza e 30 milhões de crianças podem ser salvas se os países ricos dobrarem a ajuda ao desenvolvimento nos próximos 10 anos.

Os benefícios futuros, contudo, não dependem só das nações desenvolvidas. Tampouco requerem apenas a mobilização adequada de recursos. Exigem vontade política e reformas institucionais amplas, capazes de permitir-lhes condições mais competitivas para participar do jogo internacional. Para tanto, afirma a ONU, 2005 será um ano crucial. Dele depende a mudança de rota da pobreza. Uma das sugestões é a execução de ações de ''alcance rápido'': projetos baratos, mas de forte impacto , como alimentação gratuita em escolas e entrega de medicamentos contra a Aids.

Com tais estratégias, o Brasil tem boas notícias para dar. O país pertence a um grupo de nações em desenvolvimento com renda média suficiente capaz de, com recursos próprios, financiar programas para o cumprimento das metas. Dinheiro, portanto, não falta. O desafio está numa perversidade secular: a brutal concentração de renda. Contra tal chaga, não adianta buscar culpados externos. O problema é doméstico.