Título: Amigos velam o Bezerra da Silva
Autor: Ana Paula Verly
Fonte: Jornal do Brasil, 18/01/2005, Rio, p. A15

O cantor e compositor Bezerra da Silva morreu ontem, às 7h45, de falência múltipla dos órgãos. Ele tinha 77 anos e estava internado desde 28 de outubro do ano passado no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital dos Servidores do Estado, no Centro, devido a um enfisema pulmonar. O músico ficou famoso por cantar e compor letras sobre a realidade dos menos favorecidos e a malandragem. Com material inédito, a família ainda não sabe como levar adiante a obra do sambista. - É uma responsabilidade muito grande dar continuidade à obra. Vamos pensar com calma - resumiu um dos quatro filhos do cantor, o músico Thalamy Bezerra da Silva, 38 anos.

Muitos fãs, parentes e colegas de profissão foram ontem ao velório do sambista, no Teatro João Caetano, no Centro. O cantor e compositor Dicró, amigo de Bezerra há 35 anos, relembrou o amigo.

- Lancei com ele e Moreira da Silva o disco Três Malandros in Concert. Moreira foi primeiro, depois Bezerra, estou preocupado porque devo ser a bola da vez - disse, ressaltando que não pretende deixar a boemia.

- Bezerra parou de fumar e de beber há anos. Já vi que isso não adianta. Não vou pelo mesmo caminho - antecipou, revelando a fonte das composições da dupla:

- Um botequim era inspiração para toda a noite.

A viúva, Regina de Oliveira, 52 anos, disse que Bezerra, que sofria de bronquite, estava afastado do cigarro há 11 anos e não usava drogas. E contou ainda que Bezerra oficializou a união de 22 anos quando estava internado.

- Tinhamos planos de lançar o CD, casar e viajar para os EUA em setembro. Mas ele adoeceu e preocupava-se comigo. Ele passou o Natal com a família e falou que era a última vez que ia em casa - explicou, acrescentando que o companheiro pediu que desse ao músico Marcelo D2, de herança, o seu bongô.

Bezerra da Silva converteu-se à Igreja Universal há três anos e no ano passado gravou, em selo independente, seu último CD - Caminho de luz, de músicas gospel, que inclui uma composição do senador Marcelo Crivella. Uma semana antes do lançamento, foi internado em estado grave, na Clínica Pinheiro Machado, em Laranjeiras.

Ilustres nomes da música, que compareceram ao velório, lembraram a importância do sambista.

- Ele representava a voz do povo. Sempre cantou o povo como ele realmente é - disse Marcelo D2.

Integrante da Velha Guarda da Portela, o cantor e compositor Monarco foi além:

- É uma grande perda. Ele fazia reportagem do cotidiano. O samba está de luto.

O corpo de Bezerra da Silva será sepultado hoje, às 15h, no Cemitério da Ordem Terceira do Carmo, no Caju.