Título: Adriana volta atrás na sua confissão
Autor: Gustavo Igreja
Fonte: Jornal do Brasil, 18/01/2005, Brasília, p. D3

A Justiça ouviu ontem, pela primeira vez, os dois acusados de matar a estudante Maria Cláudia Siqueira Del'Isola, no dia 9 de dezembro do ano passado. Bernardino do Espírito Santo Filho, 30 anos, e Adriana de Jesus Santos, 21, repetiram perante o juiz a mesma troca de acusações que protagonizaram ao serem presos. Ele jogou para ela boa parte da culpa. Ela também. Mas foi ainda mais longe: voltou atrás na confissão do crime e atribuiu ao ex-namorado toda a responsabilidade pelo assassinato brutal, afirmando durante o interrogatório que não teria visto ou sequer ouvido nada. Bernardino foi o primeiro a ser ouvido. Ele chegou ao Tribunal do Júri de Brasília por volta das 9h, mas só às 9h30 o interrogatório começou. Na sala, em torno de 30 pessoas, a maioria jornalistas e estudantes de Direito, ouviram do acusado a descrição detalhada de toda a violência a qual ele e Adriana - conforme afirmara Bernardino - teriam submetido a jovem.

A família dela foi orientada a não comparecer ao depoimento. Até os outros crimes de que é acusado, como o estupro de uma menina de 13 anos no Lago Sul, desconhecido até o início do mês, Bernardino confessou. A única coisa que negou foi o planejamento da morte de Maria Cláudia.

Chorando muito, ele contou ao juiz Luiz Carlos de Miranda que era tratado pela família Del'Isola melhor do que pelos próprios pais. Afirmou ter pensado antes do crime em roubar os mais de R$ 7 mil (entre dólares e reais) que levou ao fugir. E afirmou que, após estuprar e violentar Maria Cláudia, não quis matá-la, mas deixá-la amarrada e ''neutralizada''.

Para derrubar a estudante, dera nela um ''murro''. Adriana teria amarrado a vítima, retirado as roupas dela, incentivado-o a cometer o estupro e, depois, batido nela ''de quina'' com uma pá - golpe que teria provocado a morte da menina. O saco plástico com o qual envolvera e amarrara a cabeça da jovem teria servido para evitar que o sangue se espalhasse pelo chão.

O depoimento mais surpreendente, no entanto, veio de Adriana. Olhando para o juiz o tempo todo, sem chorar uma única vez, ela negou todas as acusações, mesmo tendo confessado o crime previamente em três ocasiões na delegacia. Segundo ela, só havia assumido a responsabilidade pelo assassinato anteriormente porque teria apanhado muito dos policiais.

Adriana teria ficado o tempo todo na cozinha. No depoimento, disse ter visto Maria Cláudia pegar a chave do carro para sair e, depois, visto Bernardino muito nervoso. Cuidando das coisas da casa, não vira nada ou ouvira um único grito. Só teria tomado conhecimento da morte da jovem quando o corpo foi encontrado.

Para o promotor Demerval Farias Gomes Filho, que acompanha o caso, a mudança no depoimento de Adriana não muda em nada a estratégia da acusação.

- Ela tem o direito de dizer o que quiser. Mas responderá pelas mesmas acusações, independentemente de negar. Quanto ao Bernardino, o importante é que ele tenha confessado tudo - comentou.

Somados, os seis crimes dos quais Bernardino é acusado - dentre eles o estupro, atentado violento ao pudor e ocultação de cadáver - podem render a ele 81 anos de prisão. Adriana pode ser condenada a até 73 anos. O depoimento das testemunhas está marcado para o dia 28 de janeiro. Só depois o juiz decide se vão a júri popular.