Título: Profissões no túnel do tempo
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 18/01/2005, Economia, p. A17

A expansão dos negócios da Companhia Vale do Rio Doce promoveu nos últimos anos a reativação de profissões que haviam praticamente desaparecido do mercado de trabalho nacional. Maquinistas, mecânicos de vagões e locomotivas e operadores de caminhões fora de estrada (utilizados para carregar grandes quantidades de minério de ferro) são algumas das atividades que ressurgem com destaque.

De acordo com a diretora-executiva de Recursos Humanos e Serviços Corporativos da Vale, Carla Grasso, a carência de profissionais em algumas áreas é tão grande que, dois anos antes da operação de uma mina ou novo projeto, inicia-se o treinamento dos funcionários.

- Nossa prioridade é sempre treinar mão-de-obra local.

Esta estratégia foi adotada em Canaã dos Carajás, no Pará, onde a Vale opera a mina de Sossego. Cerca de 80% dos trabalhadores da unidade são da região. Em parceria com o Senai, foram treinados eletricistas, operadores de caminhões e técnicos em manutenção de vagões.

- Não existem profissionais disponíveis com estas especializações. Tivemos que montar cursos para preparar funcionários - lembra Carla.

Desde o início do projeto, há três anos, a Vale formou pouco mais de mil maquinistas. Os futuros condutores passam por treinamento teórico e prático. Nesta última etapa, a empresa utiliza, inclusive, um simulador (localizado em Minas Gerais), que reproduz trechos da malha ferroviária a ser percorrido.

A mesma estratégia foi adotada para a formação de operadores de caminhão fora de estrada. Com a entrada em funcionamento de novas minas, a Vale teve de aumentar o número de funcionários para o serviço de transporte.

- Como a profissão está sendo reativada, o perfil dos profissionais também está mudando. Antes, a atividade era quase 100% dominada por homens, hoje já temos diversas mulheres - acrescenta Carla.

Não é apenas no nível técnico que a mineradora enfrenta dificuldades. Por conta da alta especialização exigida em sua atividade, a empresa é obrigada a desenvolver cursos especiais, como o de engenheiro ferroviário.

- No Brasil, não há formação superior para esta área. O que fazemos é selecionar engenheiros civis e mecânicos, que fazem uma especialização no setor ferroviário - explica a diretora-executiva.

O curso ministrado pela empresa dura 11 meses, abrangendo aulas teóricas e técnicas. No ano passado, a Vale formou 25 engenheiros ferroviários, número que deve crescer para 30 em 2005.

Outras áreas com poucos profissionais são a de engenharia de minas e siderurgia. A exemplo do que é feito na área ferroviária, a empresa foi obrigada a montar também cursos para atender a sua demanda.

- Muitas vezes, temos dificuldade de encontrar profissionais para montar o curso. Para resolver o problema, promovemos o intercâmbio com profissionais de universidades estrangeiras - diz.

Para dar continuidade a tantos programas, a Vale destinou, no ano passado, R$ 25 milhões para a área de treinamento. Para 2005, o orçamento deve dobrar, reflexo das aquisições e expansões que a empresa fez no ano passado.

A operadora de caminhão fora de estrada Rosineide Moura Ribeiro, de 40 anos, é um bom exemplo da reativação de profissões e do aumento da presença feminina no mercado. A especialização de Rosineide é rara, por estar estritamente ligada à expansão de projetos de grande porte, onde são necessários caminhões especiais que suportam até 290 toneladas de carga.

Na Vale há quatro anos, Rosineide foi a primeira operadora deste tipo de veículo em Canaã dos Carajás.

- Antes, era dona-de-casa, trabalhava eventualmente com vendas e cuidava dos filhos. Quando surgiu a oportunidade, não pensei duas vezes - diz, lembrando que passou por treinamento de três meses para operar um caminhão de sete metros de altura por oito metros de comprimento.