Título: Lula chama pessimistas de "madonas choronas"
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Fonte: Jornal do Brasil, 26/01/2005, País, p. A2

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu num único discurso, ontem, mensagens otimistas mescladas com recados aos pessimistas, que chamou de um ''bando de madona chorona'', críticas aos políticos que enriquecem com a ''indústria da seca'' e o aos ''de cima'' que se incomodam com a ascensão dos pobres.

Ao falar para uma platéia de carteiros, empresários e políticos, em cerimônia de inauguração do novo Centro de Tratamento de Cartas e Encomendas dos Correios, em Aparecida de Goiânia, Lula disse que não há razão para acreditar que as coisas não vão melhorar.

- É preciso que a gente acredite e redesenhe, na nossa cabeça, o Brasil que nós queremos construir, porque se a gente ficar como um bando de madona chorona, que levanta todo dia achando que nada vai dar certo, é melhor nem sair de casa. É melhor levantar de bom humor. Se não acreditarem no presidente, pelo menos acreditem em vocês e façam o Brasil do tamanho que vocês esperam que ele seja - pediu.

Para Lula, as reclamações, sejam ou não da oposição, fazem parte da natureza humana, ''mas, na política, não se pode perder o juízo nem o bom senso''. Sem citar explicitamente Fernando Henrique Cardoso, Lula criticou, novamente, o tucano. Contou uma história da campanha presidencial de 1994, quando FHC teria prometido fazer a transposição do Rio São Francisco, um dos projetos prioritários do atual governo.

- Em 1998 voltei lá (ao Ceará) e perguntei se alguém já tinha bebido um copo da água que meu adversário tinha prometido levar. Estou muito à vontade porque nunca prometi.

Ao defender os projetos do seu governo para o Nordeste, Lula criticou os políticos que enriquecem com a ''indústria da seca''.

- A seca virou uma indústria para enricar determinado tipo de político que nem deveria existir, que utiliza a miséria para poder crescer.

Em setembro passado, Lula já havia criticado os políticos do Norte e do Nordeste. Ele aposta na transposição do São Francisco e na adoção do biodiesel como projetos para ajudar a desenvolver o Nordeste. Na semana passada, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos aprovou o projeto de integração das bacias do rio.

O presidente entrou na polêmica sobre o volume de água que será usado na transposição. De acordo com o Plano Hídrico do São Francisco, aprovado em outubro, projetos para uso humano e econômico não podem ultrapassar uma vazão de 360 m³ por segundo. Mas 335 m³ já estão concedidos a empresários e governos estaduais e municipais. Os 63 m³ que seriam disponibilizados após a transposição ultrapassam a cota.

Ao dizer que há pessoas que não têm acesso à água ''desde a época em que Dom Pedro era imperador'', Lula afirmou que ''o rio não vai ficar menor se tirar 60 metros de água por segundo''.

Hoje, Lula irá a São Paulo participar de evento do ProUni, programa do governo que prevê isenção fiscal para as universidades particulares que concederem bolsas. O presidente falou ontem sobre o projeto e as diferenças de interesses entre os pobres e ''os de cima''.

- Vocês já começam a ver críticas em alguns meios de comunicação porque no Brasil é assim: toda vez que o pobre começa a ter um mínimo de ascensão, aparecem os de cima e começam a fazer crítica. Para eles, pobre tem que ser pobre a vida inteira.

No fim, voltou a citar suas origens:

- Deus não elege um pernambucano de Caetés todo ano para presidente da República. Não elege um metalúrgico todo ano. Eu sei da minha responsabilidade.