Título: Cidade às moscas em Goiás
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Jornal do Brasil, 09/01/2005, País, p. A3

Quase todas as cidades brasileiras têm uma praça central, por menor que seja o município. Não é o caso de Águas de Lindas de Goiás.

- Aqui só tem igreja, boteco e buraco - diz, revoltado, o funcionário público José Teixeira.

Ele reclama da falta de planejamento urbano e da ausência de um atendimento social mínimo. O que era para ser o principal posto de saúde, por exemplo, inaugurado há um ano, nunca funcionou. Sobrou apenas a placa: atendimento 24 horas.

Aos 36 anos, o serralheiro Paulo de Souza Oliveira já sentiu na pele o que é morar em uma cidade sem atendimento médico. Com mulher em trabalho de parto, ele teve de passar por três cidades antes até conseguir ficar à frente de um profissional.

Além da ausência de serviços básicos, a cidade também não tem indústrias e o comércio vive às moscas.

- A única coisa que se vende aqui é material de construção - diz Teixeira.

Apesar das tímidas investidas do governo local para melhorar a cidade, ainda há muita gente de malas prontas para se mudar para Águas Lindas. Um povo atraído pela especulação imobiliária, por lotes baratos e pela chance de não pagar impostos. Como conseqüência, pipocam lojas que vendem tijolos e cimento em até 24 vezes.

Agmar Soares, 33 anos, está na lista das pessoas que acreditam no crescimento do município. Há seis meses ele deixou Samambaia, uma das cidades Satélite de Brasília, e instalou seu negócio na Rua JK, a principal de Águas Lindas de Goiás.

E não reclama. Proprietário da Padaria Ideal, ele aumentou de três para sete o número de empregados e de cerca de 500 para 4 mil pães vendidos por mês.