Título: Prioridade para crimes ambientais
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 09/01/2005, País, p. A5

A partir de uma determinação expressa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo federal vai priorizar o combate ao crime ambiental este ano. A Polícia Federal já entrou em campo para identificar as quadrilhas que se infiltram no poder público para desmatar em larga escala, extrair minerais e contrabandear as riquezas naturais para o exterior. Segundo interlocutores do governo, a iniciativa de Lula é uma estratégia do governo para dar maior visibilidade à pasta da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Principal símbolo brasileiro de preservação do meio ambiente no exterior, a imagem de Marina ficou arranhada após a queda-de-braço envolvendo a liberação dos organismos geneticamente modificados no país. A pasta da Agricultura venceu a batalha e conseguiu convencer Lula a assinar três medidas provisórias autorizando plantio e venda de soja transgênica.

O combate aos crimes contra o meio ambiente ganha força a partir do início de fevereiro. A Academia Nacional de Polícia vai promover cursos em Brasília para policiais federais. Um destes será ministrado pela agência americana US Fish and Wildlife Service.

Os policiais brasileiros serão instruídos sobre modernas técnicas de infiltração em quadrilhas para combater crimes ambientais. Serão ministradas aulas sobre acondicionamento e despistes utilizados pelas quadrilhas para traficar animais silvestres e micromateriais da flora. O governo americano passou a apoiar este tipo de curso em larga escala em outros países a partir dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2003.

- Eles estão apavorados com os métodos utilizados para o tráfico de animais, que podem ser usados para transportar bombas - diz o chefe da Divisão de Repressão aos Crimes Ambientais da PF, delegado Jorge Pontes.

Ainda este mês, Pontes vai aos Estados Unidos, acompanhado de dois parlamentares da Comissão Parlamentar de Inquérito da Pirataria, para trocar informações sobre as quadrilhas envolvidas com crime ambiental. Pontes vai prestar depoimento contra o contrabandista Milan Hrabosky, envolvido com contrabando de partes de animais do Brasil e preso pelo FBI. Ele também vai colher depoimento do agente do FBI que cuidou das investigações em território americano, para punir no Brasil os servidores da Funai envolvidos com a fraude.

A missão que vai aos EUA inicia um processo de resgate de materiais contrabandeados e depois vendidos em museus. A PF já recebeu informação sobre a existência de uma coleção que teria sido contrabandeada e estaria hoje em exibição no museu Smithsonian.

- Vamos trazer todas as peças raras que foram contrabandeadas para museus no exterior - diz Jorge Pontes.

Outro projeto da Divisão de Repressão a Crimes Ambientais para intensificar as investigações é treinar os cachorros que farejam drogas para encontrar também partes de animais silvestres nos embarques dos aeroportos.

- A natureza desses animais é de caçadores - diz Pontes.

A PF promete realizar grandes operações na área ambiental. Em São Paulo, investiga a responsabilidade pela poluição do subsolo, das águas e a contaminação da população próxima do Aterro Mantovani, em Santo Antônio de Posse. No Rio, promete investigar a poluição em Volta Redonda.