Título: "Brasília é um celeiro de inteligência"
Autor: Helena Mader
Fonte: Jornal do Brasil, 09/01/2005, Brasília, p. D3

O novo titular da Secretaria para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia, Antônio Gomes, assumiu o cargo no mês passado com um grande desafio. Ele agora é o responsável por programas importantes para o GDF, como a construção da Cidade Digital, um pólo de empresas de tecnologia da informação. E garante: quer transformar Brasília na capital do conhecimento. Ex-administrador de Brasília, Antônio Gomes foi indicado pelo governador Joaquim Roriz para assumir a pasta. Procurador de Justiça aposentado do Ministério Público do DF, ele garante que vai seguir a mesma linha de trabalho do antigo titular, o deputado distrital Izalci Lucas, que voltou à Câmara Legislativa antes das eleições para a Mesa Diretora. Membro do PFL, Antônio Gomes recebeu o apoio de seus correligionários para assumir o cargo. Ele promete acelerar os estudos de viabilidade econômica de alguns projetos, como a Cidade da Saúde, e deixar em estágio avançado as obras da Cidade Digital. Para alcançar estas ousadas metas será preciso muita negociação e força política. Mas o novo secretário começou a estreitar os laços com importantes aliados aos projetos agora sob sua responsabilidade. Antônio Gomes já se reuniu com o gerente-executivo do Ibama-DF, Francisco Palhares, para acelerar a liberação da licença ambiental para a instalação da Cidade Digital. ¿ Esses projetos para o desenvolvimento científico do DF são a menina dos olhos do governador. Estamos trabalhando para obter a licença ambiental e acelerar a instalação da Cidade Digital ¿ explica Antônio Gomes.

- Como foi sua indicação para ocupar a Secretaria?

- Eu fui o primeiro ouvidor geral do DF, criei e montei a ouvidoria, no governo passado. Antes disso eu já havia sido secretário Nacional de Direito Econômico, órgão do Ministério da Justiça. Acredito que o governador me escolheu porque tenho grande ligação com Brasília.

- O senhor pretende seguir a mesma linha de gestão desenvolvida pelo deputado Izalci? Ou vai promover grandes mudanças na Secretaria?

- O que vai mudar é o estilo de gestão. Izalci é deputado e eu sou um técnico. Continuarei dando atenção especial à Cidade Digital, à Cidade da Saúde, Biotecnologia, e ao projeto de inclusão digital.

- O senhor recebeu alguma orientação específica do governador?

- Aceitei o convite para realizar esses projetos que são fundamentais para o desenvolvimento sustentável do DF e do entorno, como geradores de renda e emprego. Esses programas são a menina dos olhos do governador.

- Mas para dar prosseguimento a esses projetos o senhor precisará enfrentar grandes obstáculos, como a obtenção da licença ambiental da Cidade Digital. Como pretende superar essas dificuldades?

- Um dos focos da Secretaria é a preservação da diversidade biológica do DF. Não podemos violar o meio ambiente para realização de nenhum projeto. Pude perceber que há grande interesse do Ibama em resolver esse problema e chegar a uma solução negociada. A solução é de interesse do governo federal, do GDF e do Banco do Brasil, que será o âncora da Cidade Digital.

- A indefinição quanto à Cidade Digital fez com que o Banco do Brasil voltasse atrás e repensasse a instalação do Centro de Tecnologia da instituição no parque. Como está a negociação com o Banco?

- Esta é uma situação delicada e espero que dentro de 15 dias tenhamos alguma solução. O Banco do Brasil tem um pouco de receio quanto a essas discussões da poligonal, mas a Terracap também está cuidando desse problema e logo que haja a liberação ambiental, o Banco será a primeira grande empresa a se instalar na região. Eles ameaçaram desistir da instalação na Cidade Digital por conta da demora da liberação ambiental, mas o ambiente agora é de otimismo.

- Qual a importância da Cidade Digital para o GDF?

- A vocação do Distrito Federal é a prestação de serviços de tecnologia, pesquisas básicas e aplicadas, devido à elevada concentração de instituições de ensino e pesquisa, com número elevado de mestres e doutores, em todas as áreas de conhecimento. Por isso existe um ambiente para a criação de parques dessa natureza. Hoje já existem mais de 1.800 empresas voltadas para a área da tecnologia da informação, que faturam mais de R$ 2 bilhão por ano. A expectativa dos empresários desses setores é muito grande. Brasília é um celeiro de inteligência.

- Quando a Cidade Digital pode de fato sair do papel?

- Os prazos vão depender das definições da área de poligonal. Pela conversa que tive com o Ibama e com o Banco do Brasil, acredito que até março haja uma solução para resolver essa pendência ambiental. Este mês será realizada uma audiência pública, para que o projeto de definição da área do Parque Nacional volte à pauta em regime de urgência. Depois será feita a retirada dos entulhos do parque pela Terracap e a construção será acelerada. Já fizemos contatos com a Caixa Econômica Federal, com os Correios e o Serpro. Depois da chegada das âncoras vamos atrair empresas menores.

- Como o governo pretende atrair essas empresas?

- Haverá incentivos específicos para empresas da área de tecnologia da informação, já que essa é uma solicitação do próprio sindicato que representa o segmento. Vamos oferecer incentivos fiscais para que as empresas se motivem a vir para Brasília. Mais de 40 mil empregos serão gerados no local, com a instalação de mais de 2 mil empresas. Atualmente, temos mais de 1.200 no DF.

- Quais são os projetos do governo na área de inclusão digital?

- Segundo o IBGE, mais de 90% dos brasileiros são analfabetos digitais. Para acabar com essa triste realidade no DF, criamos o projeto da Escola Digital Integrada, em parceria com a UnB e a Embrapa. O projeto consiste na colocação de computadores em escolas públicas. O Gisno, na Asa Norte, já abrigou um projeto piloto nesse sentido. O foco do projeto é na informação e na comunicação. Não queremos só ensinar os estudantes a usar as ferramentas. Nossa idéia é levar esse projeto para todas as escolas. Temos também um outro projeto para alcançar toda a comunidade.

- Como funciona esse projeto?

- Esse projeto se chama DF Digital. São centros de inclusão digital e de tecnologia, voltados para as comunidades, em parceria com o Banco do Brasil. Esses computadores são colocados nas bibliotecas públicas e todos têm acesso a esses computadores. Já colocamos em cinco regiões: Ceilândia, Núcleo Bandeirante, Plano Piloto, Candangolândia e Taguatinga. Agora vamos estender para outras regiões administrativas. Não há ônus para o governo, os computadores são doados e há treinamento para as pessoas que vão manusear essas máquinas. Com informação, os usuários terão cidadania.

- O governo lançou o projeto para a criação da Cidade da Saúde, mas as discussões para sua construção estão visivelmente mais atrasadas. O que o governo pretende fazer para viabilizar sua construção?

- A Cidade da Saúde ainda está em fase embrionária, aguardando parecer da Terracap para a realização de estudo de viabilidade técnica e econômica. Só depois desse estudo poderemos dar o próximo passo. A destinação da área já existe, ao lado da ponte JK. Será um pólo de tecnologia avançada em saúde. Não haverá clínicas e hospitais, mas laboratórios de pesquisa de grande complexidade. Os pesquisadores de Brasília vão trabalhar com tecnologia de ponta, para que Brasília se torne um pólo, uma referência nacional e chegue até a exportar tecnologia.

- Qual é o orçamento disponível para a Secretaria este ano?

- Teremos disponíveis em 2005 cerca de R$ 8 milhões, além dos R$ 14 milhões destinados à Fundação de Amparo à Pesquisa (FAP-DF). Grande parte dos recursos é para o pagamento de pessoal, mas também há verbas para a realização de estudos de viabilidade econômica dos projetos em andamento. Não é o suficiente para todos os projetos, mas o governo pode remanejar outros recursos ao longo do ano.