Título: Tratamento assustou
Autor: Arthur Ituassu
Fonte: Jornal do Brasil, 12/01/2005, Internacional, p. A7

O secretário Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, ministro Nilmário Miranda, desembarcou ontem no Brasil impressionado com o que chamou de ''prepotência'' dos militares de Israel. O ministro integrou a delegação que acompanhou a eleição para a ANP. Nilmário se disse estupefato com o tratamento agressivo dos israelenses com estrangeiros e com a própria delegação, forçada a esperar mais de três horas nos bloqueios militares.

- Eles não têm a menor preocupação com a opinião pública. São prepotentes mesmo - afirma Nilmário.

Além do ministro, a delegação, de 10 pessoas, incluiu senadores, deputados, enviado do Itamaraty e representantes da sociedade civil. A comitiva acompanhou o pleito em Hebron, Belém e Jerusalém. Um simples lanche em Jericó consumiu horas, devido às barreiras. Na ponte Allenby, que separa a Jordânia dos territórios, o grupo ficou por bom tempo para que um dos membros fosse interrogado de forma arbitrária pelo Exército.

- Qualquer um pode barrar um senador e o tratar com rispidez. Eles têm a força militar e isto basta - acusa Nilmário. A delegação queria ir a Gaza, mas foi convencida que poderia ficar no caminho, devido a entraves burocráticos.

Os brasileiros ouviram histórias macabras de parlamentares locais. Segundo eles, muitos presos palestinos que morrem em Israel não têm o corpo liberado para a família até o cumprimento total da pena, pelo cadáver. As presas criam filhos no cárcere. Os palestinos reclamam por 12 mil presos. Israel só reconhece 8 mil. De acordo com Nilmário, a delegação não viu fraude na eleição, mas o impedimento para parte da população votasse. O secretário ficou sensibilizado com paisagens ''lunares'' e com a pobreza. O maior impacto, diz, foi a visita à Muqata, a sede da ANP onde Yasser Arafat viveu confinado.

- Eles precisam da ajuda do mundo. Não há Estado palestino, há um território cheio de assentamentos.

Nilmário diz que a população rejeita o que chama de ''paz humilhante'', com a permanência de Israel na ocupação. O ministro defende uma ''paz digna'', em que os direitos palestinos sejam respeitados. O envio da delegação, segundo ele, foi uma demonstração de apoio do Brasil.