Título: Jacarta proíbe ajuda em área rebelde
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Fonte: Jornal do Brasil, 12/01/2005, Internacional, p. A12

O governo da Indonésia advertiu ontem a voluntários de ajuda humanitária, que socorrem vítimas do tsunami na província de Aceh, para que não se aventurem além das duas maiores cidades da ilha de Sumatra, por risco de ataque de rebeldes separatistas. As agências de socorro vão precisar de autorização para trabalhar fora da capital, Banda Aceh, e da devastada Meulaboh, na costa Oeste.

Perguntado se Aceh é insegura para os funcionários das ONGs, o chefe das operações de socorro na Indonésia, Budi Atmaji, respondeu:

- Sim, em alguns lugares.

No entanto, os separatistas afirmam que nunca atacariam voluntários de ajuda. Estes últimos também dizem não estar muito preocupados com as ''ameaças'' descritas por Jacarta.

Os tsunamis se formaram depois de um terremoto de 9 graus na escala Richter, no leito submarino, 150 km à frente de Meulaboh. O maremoto matou até agora mais de 157 mil pessoas na costa do Oceano Índico - 105.500 na Indonésia, 30 mil no Sri Lanka e 15 mil na Índia. A província de Aceh, a mais afetada na Indonésia, é o foco da ação de auxílio. O envolvimento internacional se concentra em uma área que há três décadas é palco de enfrentamentos entre forças do governo e da guerrilha separatista.

O ministro de Relações Exteriores da Indonésia, Hassan Wirajuda, e o GAM (Movimento para Aceh Livre) chegaram a um ''acordo de cavalheiros'' para que nenhum dos lados lance uma ofensiva e para garantir que a ajuda chegue aos necessitados.

- Não é um cessar-fogo no sentido de um acordo formal. Mas é um jeito prático, particularmente para as nossas tropas, de auxiliar as vítimas - disse Wirajuda à BBC.

O chefe militar do país, general Endriartono Sutarto, disse que em Banda Aceh tentou entrar em contato com o GAM, ''para propor o cessar-fogo'', mas até agora não recebeu resposta.

Cerca de mais 2 mil homens e mil cadetes foram enviados pelo governo a Aceh, para ajudar na reconstrução.

Mas apesar do ''acordo de cavalheiros'', um grupo militante islâmico advertiu os voluntários estrangeiros para não se dispersarem da missão humanitária na província.

- Podemos trabalhar juntos. Mas se eles vierem com uma agenda secreta, colonialismo ou imperialismo, acho que será muito, muito perigoso - disse Hilmy Bakar Almascaty, líder da Frente dos Defensores Islâmicos, que também está ajudando no socorro.

A própria quantidade de dinheiro de doação que tem chegado à Indonésia trouxe problemas, como a corrupção.

- O governo enfrenta um segundo tsunami, mas de ajuda - comparou Luky Djani, da ONG Indonesia Corruption Watch. - As autoridades estão inundadas com a imensa quantidade de doações e não sabem como administrá-las ou repassá-las da maneira correta.

A ONU, que também vem recebendo muito dinheiro para ajuda emergencial e reconstrução dos locais devastados na Ásia, vai adotar mecanismos para mostrar que está usando as doações corretamente. A organização colocará no ar um site onde os interessados podem acompanhar o destino de cada dólar para as vítimas do tsunami.

A Unicef , uma das agências da ONU, vai receber R$ 36.984 doados pelos brasileiros. O montante foi depositado por pessoas físicas em uma conta do Itamaraty.