Título: Indústria com o pé no freio
Autor: Mariana Carneiro e Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 12/01/2005, Economia, p. A17

Pelo terceiro mês consecutivo, a indústria brasileira patinou e dá sinais de que o ritmo acelerado de crescimento parece ter chegado ao fim. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), no mês de novembro, a produção industrial caiu 0,4% frente a outubro. O recuo reflete o comportamento adverso de 16 dos 23 ramos pesquisados que têm séries ajustadas sazonalmente, sendo particularmente significativo nas seguintes indústrias: farmacêutica (-7,5%), metalurgia básica (-3,1%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-4,5%). O maior freio partiu dos bens de consumo duráveis (-1,1%), seguido dos fabricantes de bens de capital (-0,8%) e de uma taxa negativa de 0,6% na produção de bens intermediários - que acumula queda de 1,7% desde agosto.

- Os índices de novembro confirmam acomodação no ritmo de produção, na passagem do terceiro para o quarto trimestre, após seis meses de crescimento consecutivo - conclui Silvio Sales, chefe do Departamento de Indústria do IBGE.

Apesar da proximidade das festas de fim de ano, a manutenção do crescimento da indústria no último trimestre depende das projeções quanto ao andamento da economia no primeiro semestre.

- A indústria acelera a produção em agosto, setembro e outubro com as encomendas para o fim do ano, só mantém a produção em alta se tiver perspectiva de aquecimento da economia no semestre seguinte - afirma Mônica Oliveira, analista do Brascan.

A parada no crescimento industrial coincide com o movimento de alta dos juros adotado pelo Banco Central nos últimos quatro meses. Neste período, a taxa passou de 16% ao ano para 17,75% ao ano.

Em meio à perda de fôlego da indústria, a produção de bens não-duráveis voltou a crescer e é a única categoria do setor que tende a manter a expansão. O IBGE verificou aumento de 0,5% na produção desses bens sobre outubro.

- A recuperação do trabalho e da renda demoraram a aparecer, mas dão sinais de recuperação real agora, o que explica o resultado dos não-duráveis - avalia o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Estevão Kopschitz.

Mas se o resultado de novembro é inferior ao verificado em outubro, em relação ao ano passado, a indústria verificou crescimento de 8,1%.

- Vale destacar que, neste tipo de indicador, a produção da indústria registra taxas positivas desde setembro de 2003, ou seja, cresce há 15 meses consecutivos, o que não ocorre desde junho de 2001 - informou Sales.

Apesar do recuo, a indústria fechará em 2004 o melhor desempenho dos últimos 10 anos. Até novembro, a indústria acumula alta de 8,3%, ante os 7,6% de 1996.