Título: Varig renegocia dívida com a BR
Autor: Marcelo Kischinhevsky
Fonte: Jornal do Brasil, 12/01/2005, Economia, p. A18

Dirigentes da Varig e da BR Distribuidora têm encontro marcado, no próximo dia 21, para renegociar a forma de pagamento da dívida de cerca de R$ 90 milhões que a companhia aérea tem com a subsidiária da Petrobras. A direção da Varig quer parar de pagar à vista pelo querosene de aviação que abastece suas aeronaves, imposição da estatal que vigora desde o fim do ano passado, quando a quitação das parcelas atrasou. O objetivo da renegociação é retomar os pagamentos mensais, garantindo fôlego financeiro para a companhia, que busca uma nova fórmula de reestruturação, em conjunto com seus principais credores - Infraero, General Electric, Boeing, Unibanco e a própria BR. O novo plano, que conta com a assessoria da Trevisan Consultores, tem o aval do ministro da Defesa e vice-presidente da República, José Alencar, que engavetou a proposta de seu antecessor, José Viegas, de reestruturar o setor aéreo através de medida provisória, com direito a liquidação extrajudicial de empresas em dificuldades.

Oficialmente, as empresas não comentam detalhes da renegociação. A Varig vem registrando bons resultados operacionais, mas permanece sufocada pelo peso de uma dívida que totaliza R$ 9,7 bilhões, incluídos os valores de leasing de aeronaves - sem estes contratos, o endividamento chega a cerca de R$ 6 bilhões, dos quais mais da metade só com credores do setor público, como a Infraero (empresa que administra os aeroportos do país), a BR e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

- A proposta de reestruturação capitaneada pela própria Varig é um avanço, já que o governo vinha alijando a empresa do processo - afirma o analista Marcelo Ribeiro, da corretora Pentágono. - O presidente da companhia, Luiz Martins, vive um bom momento, fortalecido por resultados financeiros positivos, só que o cenário para o setor aéreo continua incerto e, para a empresa continuar voando, todos vão ter que aceitar perder um pouco, inclusive a Fundação Ruben Berta (controladora da Varig).

Outros analistas do setor, contudo, olham com reticências o novo plano, lembrando que modelo semelhantes já foi tentado, sem sucesso. Em 2001, os bancos Fator e Credit Lyonnais desenharam um plano de reestruturação, que acabou abortado com o agravamento do desequilíbrio financeiro da empresa, após os atentados terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos. Em 2002, o Unibanco, à frente de um comitê de credores, assumiu a gestão da companhia e indicou Arnim Lore, ex-diretor do Banco Central, para presidi-la. Numa série de reviravoltas, porém, a FRB voltou ao controle. Em seguida, o governo incentivou a fusão com a TAM, mas a idéia também não prosperou.