Título: Levy é usado pelo BC, diz Lessa
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 12/01/2005, Economia, p. A19

Trocando a posição de combatente para espectador no debate sobre os rumos da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), o economista e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Carlos Lessa afirma que a entrada do secretário do Tesouro, Joaquim Levy, na discussão foi determinada pelo presidente do Banco Central, Henrique Meireles. Em entrevista ao JB na última segunda-feira, Levy comentou que ''não há possibilidade de a Selic subir e a TJLP ficar parada''. De acordo com Lessa, ''a novela continua'', referindo-se ao embate ocorrido entre ele enquanto estava à frente do BNDES e o titular do BC, agora com novos atores. Sobre seu sucessor, Guido Mantega, Lessa acredita que tenha assumido seu papel na defesa de queda do índice, usada em 90% dos financiamentos do banco e hoje em 9,75% ao ano. - A entrada de Mantega me tranqüilizou, já que ele não disse nada diferente do que eu defendia, além de me sinalizar que Lula está preocupado com o desenvolvimento - disse. - Mas o Joaquim Levy foi colocado na linha de frente dessa discussão por Henrique Meirelles (presidente do Banco Central), que ficou numa situação horrorosa ao afirmar que não contribuiu para minha saída, não podendo mais defender a alta da TJLP depois disso.

Sua famosa ''metralhadora giratória'' promoveu outros disparos na direção de Levy.

- Levy é porta-voz da visão do FMI, onde se formou intelectual, moral e afetivamente. Ele não esconde que é neoliberal - criticou.

Sobre a intenção de baixar a TJLP que, segundo Mantega, teria sido demonstrada por Meirelles no último encontro dos presidentes do BNDES e do BC, Lessa classificou como ''uma besteira''.

- Meirelles chefiou a orquestra que queria acabar com as linhas de crédito que usam a TJLP. Ele disse que a Selic era alta porque havia muitos créditos concedidos a taxas baixas. Caí porque ele me atacou e eu o ataquei.

Segundo Lessa, a alta da TJLP é defendida dentro do governo por dois motivos.

- É a forma que a equipe econômica tem de se eximir da culpa pelas altas na Selic e, ao mesmo tempo, defender o fim dos recursos ao BNDES em prol dos bancos privados.

Apesar de reconhecer os mesmos papéis em atores diferentes, Lessa acha que, desta vez, o desfecho não será o mesmo de quando protagonizava a ''novela''.

- Mantega tem três vantagens: é da completa confiança de Lula, é paulista, como queria a equipe econômica, e não tem o mesmo estilo que eu. Ele é quieto.