Título: Cabeceiras de ponte não tinham proteção
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 28/01/2005, País, p. A6

CURITIBA - A cabeceira das pontes da rodovia Régis Bittencourt (BR-116) que passam sobre a represa do Capivari, em Campina Grande do Sul (PR), não tem qualquer proteção contra a infiltração de água. No local, há apenas terra, grama, árvores e um sistema de drenagem comum, formado por tubos e canaletas.

Parte da ponte desabou na noite de terça-feira, interrompendo o trânsito por 14 horas. No acidente, uma pessoa morreu e três ficaram feridas.

O Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) informou que a cabeceira das pontes deveria ser dotada de uma capa de proteção para impedir que a água da chuva penetre no solo. Para o Departamento Nacional de Infra-estrutura em Transportes (DNIT), os 70 metros da estrutura caíram por causa da infiltração de água na terra, que deslizou contra os pilares da ponte.

Engenheiros garantem que soluções simples poderiam ter evitado o acidente. A principal delas é conhecida como enrocamento: a colocação de blocos de pedra ou manta de concreto sobre a superfície do aterro que forma a cabeceira da ponte.

O presidente do IEP, Gilberto Piva, afirmou que a constante variação do nível de água da represa do Capivari, construída para gerar energia na região metropolitana de Curitiba, também pode abalar a base da cabeceira. Segundo Piva, o problema facilita a infiltração de água.

- Isso também seria resolvido com a proteção das margens do lago - analisa.

O engenheiro Ronaldo Jares, chefe da unidade do DNIT responsável pela conservação do trecho em que aconteceu o acidente, estuda formas de impermeabilizar o aterro das pontes. Antecipa que a terra pode ser contida com barras de ferro, os grampos, ou ser coberta por uma camada de concreto.

As margens do lago, em volta da cabeceira, devem ser cobertas com lona. Uma sondagem geológica está sendo feita para determinar a melhor proteção na encosta e na base da cabeceira.

Ronaldo Jares informa que o aterro é remanescente do traçado original da rodovia, da década de 60.

- A necessidade de capa protetora na cabeceira não foi prevista na época da execução. O aterro tem mais de 40 anos e sua inclinação era considerada normal até o deslizamento.

Ele afirma que não poderia precisar se as proteções seriam capazes de impedir o deslizamento.

- Houve uma fatalidade causada pela chuva. Em 30 anos de DNIT, nunca vi isso acontecer - defende-se.

Segundo geólogos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que inspecionaram a cabeceira da ponte que segue aberta, em mão dupla, o solo no local permanece em movimento. No entanto, garantem que a segurança da estrutura está preservada.

A estrada foi fechada ontem por 90 minutos, por causa de obras de conservação do asfalto. Os congestionamentos chegaram a 15 quilômetros nos dois sentidos.