Título: O homem por trás das eleições
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 28/01/2005, Internacional, p. A7

BAGDÁ - O grande aiatolá Ali Sistani é o homem que quer levar os xiitas ao poder pela primeira vez em um país árabe (o Irã é persa) desde o califado fatímida - uma dinastia muçulmana - no Egito do século X.

Para conseguir isso, Sistani se opôs tanto à coalizão - que, em princípio, desejava governar diretamente ou por uma assembléia designada - como aos sunitas, que queriam adiar a votação. Combateu também o clérigo Moqtada al-Sadr, que desejava uma guerra total dos xiitas contra a ocupação americana.

Aos 73 anos, Sistani usa o turbante negro dos descendentes do profeta Maomé. Nasceu em Machhad, no Irã, e aos cinco anos começou a estudar o Alcorão, prosseguindo os estudos na cidade santa xiita iraniana de Qom. Em 1952, foi morar em Najaf - outra cidade sagrada xiita - ao Sul de Bagdá.

Em junho de 2003, Sistani começou a se opor à administração americana, emitindo uma fatwa (decreto religioso) na qual rejeitava a redação de uma Constituição por uma assembléia designada pela ocupação.

Quando os combates entre a milícia de al-Sadr e as tropas dos EUA faziam estragos em Najaf, em agosto de 2004, Sistani se declarou doente e foi se tratar em Londres. O aiatolá voltou de modo triunfal ao Iraque e conseguiu a rendição de Al Sadr, cujas tropas estavam cercadas no mausoléu de Ali.

Considerado o mais importante dos quatro grandes aiatolás do Iraque, Sistani integra a tradição dos xiitas iraquianos contrária à teoria do iraniano Khomeini, a respeito da preponderância da religião sobre a política. Mas isso não o impede de abençoar a lista da Aliança Unificada Iraquiana, dirigida por Abdel Aziz Hakim, o principal candidato xiita.