Título: Apelo de Ronaldo se espalha na rede
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/01/2005, Internacional, p. A7

Prova de vida do engenheiro seqüestrado teria sido principal gestão de Lula em telefonema a presidente sírio

RIO e AMÃ - O apelo feito pelo jogador de futebol Ronaldinho, no qual pede a libertação do engenheiro seqüestrado no Iraque, João José de Vasconcellos Jr., foi reproduzido ontem em vários sites na internet. incluindo no mundo árabe. O brasileiro é refém da guerrilha sunita há mais de uma semana, após ter sido capturado no Norte do Iraque. Atualmente, o que mais preocupa as autoridades brasileiras é a falta de uma prova de vida. Esta teria sido a principal gestão feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no telefonema ao presidente sírio Bachar al Assad.

No vídeo divulgado pelos grupos Ansar al Sunna e Brigadas de Mujahedin, no sábado, são exibidos apenas documentos e pertences do engenheiro, que não aparece na gravação. O comportamento dos rebeldes, no entanto, não é incomum: na segunda-feira, um refém americano reapareceu em um vídeo quatro meses depois de ter sido capturado.

O apelo de Ronaldinho foi divulgado na página do jornal iraquiano Iraq Daily, , com notícias em inglês, da rede BBC e do canal Al Arabyia, de Dubai. Em árabe, a rede de TV anuncia trechos da mensagem do jogador, feita quarta-feira, e avisa que a exibirá em breve. Segundo o editor-chefe da Al Arabyia, Nabil Khatib, a fita só não foi transmitida ontem porque ainda não estava pronta. Entrevistado pela BBC Brasil, Khatib acha que a mensagem poderá ajudar a criar um clima favorável à libertação de João entre o povo iraquiano e acabar sensibilizando os seqüestradores.

Já a Al Jazira, por outro lado, informou que só definirá se a gravação será divulgada na rede, do Qatar, quando tiver o material em mãos.

Em Juiz de Fora, as irmãs de João, Karla e Isabel de Vasconcellos, convocaram a população para uma manifestação, amanhã, no Centro da cidade.

- Mobilizações assim fortalecem a família, nos dão mais força e fé para continuar a crer que esse pesadelo terá um desfecho melhor - disse Karla ao JB.

Para o ato, estão sendo produzidos faixas, cartazes e camisetas estampadas com a foto de João, as bandeiras do Iraque, do Brasil e de Juiz de Fora, além da palavra ''Liberdade'', em português e árabe. A intenção é fazer com que as imagens cheguem ao mundo árabe.

Em outra iniciativa , a Liga da Juventude Islâmica do Brasil gravou uma mensagem, esta sim, exibida ontem na Al Jazira, segundo a agência Reuters. O apelo foi feito pelo xeque Oussama Azzahed, libanês radicado há oito anos no Brasil. Azzahed é sunita, como a maior parte dos insurgentes iraquianos, e conclui a mensagem citando um trecho do Corão.

À noite, 18 associações árabes-brasileiras se reuniram em São Paulo para debater o que mais pode ser feito. Segundo Iskandar Riachi, conselheiro especial da Confederação Nacional das Entidades Líbano-Brasileiras, a idéia é enviar uma comissão para a região.

Em Amã, na Jordânia, o diplomata Afonso Celso de Ouro Preto, enviado do Itamaraty para acompanhar o caso que chegou ontem ao país, passou o dia reunido com representantes de embaixadas estrangeiras. A Associação dos Clérigos Muçulmanos no Iraque, grupo que ajudou na libertação de três reféns japoneses no ano passado, também está sendo contactada.

O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, que participa do Fórum Econômico Mundial em Davos, reiterou ontem que o Brasil se dispõe a negociar, caso seja necessário, para libertar o funcionário da construtora Odebrecht. No entanto, até agora nenhuma exigência foi feita pelos seqüestradores.

- Faremos tudo o que estiver a nosso alcance para que o caso tenha desfecho um favorável - disse. - Querem que o Brasil seja contra a guerra? Já dissemos que somos.