Título: Cerimônia recorda vítimas do Holocausto
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/01/2005, Internacional, p. A12

AUSCHWITZ - Um silvo e o ruído de um trem freando lembraram a chegada de milhares de prisioneiros a Auschwitz na cerimônia pelos 60 anos da libertação do campo de extermínio nazista em Oswiecin, Sul da Polônia. Cercados por arames farpados e edifícios do complexo, dezenas de chefes de Estado e de governo discursaram reiterando que as atrocidades ali cometidas jamais sejam esquecidas.

O palanque foi armado simbolicamente no local onde os soldados alemães separavam os prisioneiros saudáveis - para trabalhos forçados - das mulheres, crianças e idosos que iam para as câmaras de gás. Estavam presentes os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, da França, Jacques Chirac, de Israel, Moshe Katsav, e da Polônia, Alexander Kwasniewski, o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney e o novo presidente ucraniano, Viktor Yusvshenko, filho de sobreviventes, entre outros.

Sob neve e frio intenso, a celebração reuniu ainda sobreviventes e soldados soviéticos do primeiro contingente a chegar ao local, em 1945, além de centenas de jovens. O polonês Wladyslaw Bartoszewski, prisioneiro do campo de número 4427 e ex-ministro das Relações Exteriores, abriu os discursos. Num momento constrangedor especialmente para os americanos, Bartoszewski lembrou que a resistência polonesa alertou insistentemente os aliados sobre Auschwitz, sem sucesso. Também não avançaram as pressões para que a aviação americana e britânica destruísse as ferrovias que levavam os judeus à morte.

- Nenhum país do mundo reagiu de forma adequada à gravidade da situação - cobrou o ex-ministro. - Não acharam formas eficazes para deter o extermínio e, para dizer a verdade, não procuraram. Precisamos saber o quanto dessa experiência passamos às novas gerações. Temo que ainda não seja o suficiente - afirmou, sendo endossado pelo israelense Moshe Katsav, para quem ''os gritos de horror dos ali assassinados ainda podem ser ouvidos no campo.''

- Quando caminho por aqui, sinto que estou sobre as cinzas desses mortos - completou Katsav.

O presidente Putin se declarou envergonhado pelo ''anti-semitismo'' que ainda existe entre jovens de seu país e disse que o terrorismo hoje é tão ameaçador quanto o nazismo o foi.

- Devemos lembrar o passado mas cientes das ameaças do mundo moderno - afirmou, num tipo de raciocínio similar ao de Cheney. Para o vice-presidente americano, a história do campo mostra que ''o Mal é real e precisa ser confrontado''.

Mais de um milhão de pessoas passaram pelas câmaras de gás e fornos crematórios do campo. A maioria do contingente era formada por judeus, mas havia também prisioneiros de guerra russos, ciganos, poloneses, testemunhas de Jeová, homossexuais e opositores políticos ao regime nazista.