Título: Um dia frio para não mais esquecer
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 28/01/2005, Intrenacional, p. A13

AUSCHWITZ - Cálculos indicam que mais de 1,5 milhão de pessoas enfrentaram a morte nas câmaras de gás do complexo de Auschwitz-Birkenau, como era oficialmente chamado o conjunto erguido pelos nazistas na Polônia ocupada para aplicar a ''Solução Final'' contra os prisioneiros.

Os trens vinham de toda parte lotados. Quando chegavam, os grupos eram separados entre os que sobreviveriam trabalhando e os que seriam executados. Mulheres, idosos, doentes e crianças eram encaminhados a compartimentos retangulares com apenas uma porta de entrada. Despidos, recebiam uma barra de sabão ao entrar e a informação de que ''tomariam um banho''.

Assim que as portas eram seladas, em vez de água, o que saía por dutos no teto era a espessa fumaça do mortal gás Zyklon B, cujos cristais amarelos se dissolvem em contato com o ar. O gás era fabricado, originalmente, para ser usado em pulverização de lavouras. Os corpos depois eram incinerados em fornos industriais e as cinzas espalhadas.

Auschwitz foi libertado no dia 27 de janeiro, quando um pelotão russo chegou ao local. Pelo menos 7 mil pessoas ainda estavam no campo.

- Vimos o rosto das pessoas que libertamos. Elas haviam passado pelo inferno - recordou o ex-capitão Anatoly Shapiro, o oficial russo que comandava o contingente naquela manhã de 1945.

- A neve caía espessa como hoje, nós só tínhamos farrapos para vestir e alguns andavam descalços - recordou o sobrevivente Kazimierz Orlowski, de 84 anos. - Eram tempos horríveis.

Assim como Orlowski, vários outros, acompanhados por parentes, incluindo jovens, foram a Auschwitz, mostrar o local onde sofreram os horrores do nazismo.

- Não estou aqui para falar do que aconteceu. Meu único objetivo é acender uma vela pela alma de minha mãe, cujas cinzas estão em algum lugar desse campo - disse Jan Wojciech Topolewski, outro sobrevivente.