Título: Estatização da Varig decola
Autor: Mariana Mazza e Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 28/01/2005, Economia & Negócios, p. A19

BRASÍLIA e RIO - Para solucionar seus problemas financeiros, a Varig deve tornar-se em breve uma estatal. A afirmação foi feita ontem pelo vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, na saída de reunião que contou com a participação de membros da Fundação Ruben Berta, que controla a empresa, diretores do Unibanco e consultores da Trevisan. Durante o encontro, Alencar conheceu um novo plano de reestruturação da companhia, que prevê a transformação de de débitos em ações da empresa.

Segundo Alencar, como o governo é o maior credor da companhia, a Varig deve ser estatizada, mesmo que provisoriamente.

- A estatização imediata pode ser conseqüência da transformação dos créditos em capital - explicou.

O vice-presidente ponderou que não há intenção de manter a Varig como estatal eternamente. A idéia é promover um leilão para busca de compradores privados. O anúncio público da venda das ações do governo deverá ser feito simultaneamente à troca dos créditos.

- Nós estamos saindo dessa reunião certos de que há alternativas para sanear a empresa sem que se precise fazer nenhuma execução extra-judicial - afirmou.

Na semana que vem será realizada mais uma reunião, desta vez com a participação dos credores da companhia aérea, como o Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Infraero e General Electric (GE). De acordo com estimativas de mercado, a dívida da Varig com os órgãos públicos gira em torno de R$ 3 bilhões. No total, contando os contratos de leasing de aeronaves, o débito salta para R$ 9,7 bilhões.

A hipótese de estatização, no entanto, foi negada pelo presidente da Varig, Carlos Luiz Martins.

- Não será absolutamente intervenção, nem estatização. Estas premissas já estão afastadas - sustentou, ao sair da reunião.

Martins mostrou-se entusiasmado com o projeto apresentado por seus auditores e com a receptividade do governo. Os detalhes da reestruturação, segundo ele, não serão divulgados antes que a diretoria da Varig converse com seus credores.

A expectativa é de que, em no máximo quatro meses, exista um posicionamento de todos os credores com relação ao projeto apresentado ontem. O executivo afirmou que existe uma forte possibilidade de que um acerto de contas com o governo faça parte do momento final de negociações. Recentemente, a empresa ganhou no Superior Tribunal de Justiça (STJ) uma ação em que pleiteia o ressarcimento de perdas acumuladas nos anos 80 e 90 devido ao congelamento das tarifas aéreas. Segundo cálculos preliminares, a Varig pode receber até R$ 2 bilhões do governo federal.

Para Marcelo Ribeiro, analista da corretora Pentágono, a solução da Varig é um ''xadrez difícil''.

- A estatização pode abrir um precedente para a Vasp receber ajuda, além de estar sujeita a críticas da opinião pública. Por outro lado, facilitar o pagamento de dívidas pode levar outras empresas aéreas a pedidos semelhantes - pondera.