Título: Juros vão subir ainda mais
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 28/01/2005, Economia & Negócios, p. A20

SÃO PAULO - O Banco Central não se limitou a indicar que o processo de aperto monetário não acabou e, na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, alertou para a possibilidade de aceleração na alta dos juros. O documento foi considerado duro e conservador. Após sua leitura, o fim do ciclo de altas dos juros foi descartado pelos analistas de mercado, e já há quem veja a possibilidade de uma alta na Selic em fevereiro acima de 0,5 ponto percentual.

Os argumentos utilizados pelo BC para justificar a última elevação da Selic - de 17,75% ao ano para 18,25% - já eram esperados. As preocupações do BC continuam as mesmas: a atividade econômica aquecida, o núcleo de inflação (que mostra a tendência dos preços) em patamar elevado e a rigidez das expectativas do mercado em relação à inflação futura.

- A ata, como se esperava, foi dura e reafirma o conservadorismo do BC, cujos modelos nem sempre conseguem captar a dinâmica da economia e, por isto, os juros continuarão subindo - disse o economista-chefe da SulAmérica Investimento, Newton Rosa.

Se os argumentos do BC em defesa da alta da Selic eram esperados, o trecho em que a autoridade monetária revela que cogitou uma alta superior a 0,5 ponto percentual surpreendeu.

- A interpretação dos argumentos do BC é de que, se tudo estiver bem, os juros subirão 0,5 ponto percentual, mas se algo acontecer, a alta será mais forte. A autoridade monetária passou boa parte do documento mostrando como a economia vai bem, com mais emprego, investimentos, crescimento industrial e aumento do PIB, apesar das sucessivas elevações na Selic. Isto dá um certo conforto para que o BC suba mais fortemente os juros - analisou o economista-chefe do banco Pátria, Luiz Fernando Lopes.

O tom conservador da ata levou empresários a criticarem o BC.

- Após 11 páginas de argumentos, dados e números, o documento apresenta insólita e pouco consistente conclusão: houve redução na distância entre as projeções do Copom e a trajetória de metas de inflação, mas há possibilidade de a demanda agregada se impulsionar mais do que o previsto nas projeções, e a resistência da inflação à queda pode revelar-se mais intensa do que o estimado. Com esse tipo de justificativa e retórica, sempre há argumentos para defender a abertura do guarda-chuva dos juros altos - opinou Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, o BC fez um diagnóstico pessimista da inflação. A ata foi divulgada no dia em que a Fundação Getúlio Vargas divulgou recuo do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M): 0,39% em janeiro contra 0,74% em dezembro.

Com a perspectiva de novos aumentos dos juros, o Ibovespa fechou em baixa de 2,04%.