Título: Câmara pede sindicância para conter o PMDB
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 29/01/2005, País, p. A2

BRASÍLIA - O corregedor da Câmara, deputado Luiz Piauhylino (PDT-PE), decide na próxima segunda-feira se instaura uma sindicância para apurar a chamada Operação Locadora, do PMDB. O pedido de investigação, assinado pelo deputado Wilson Santiago (PMDB-PB), foi encaminhado na manhã de ontem à Corregedoria pelo presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP), conforme havia antecipado o Jornal do Brasil.

No início da noite, o líder do PP, deputado José Janene (PR), engrossou o coro dos que desejam a abertura de inquérito para apurar se houve cooptação de deputados do seu partido por parte do ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PMDB). Dois dos deputados do PP - Dr. Heleno e Alexandre Santos (ambos ex-PP-RJ) - deixaram a sigla para se aliar ao grupo de Garotinho no Rio.

- É enojante essa atitude. Estou indignado. O assédio é de um tamanho que eu nunca vi antes - lamentou Janene, dizendo que também vai protocolar, provavelmente na próxima semana, um pedido de investigação.

A operação, que já filiou ao PMDB sete deputados ligados a Garotinho e prevê a filiação de mais 15 parlamentares, visa a fazer maioria dentro da sigla para eleger o deputado Saraiva Felipe (MG), da ala oposicionista, como líder do partido na Câmara no lugar de José Borba (PR), ligado ao Planalto, além de declarar apoio a Virgílio Guimarães (PT-MG), candidato à presidência da Câmara em oposição ao Planalto.

O Corregedor pode propor a instalação de uma Comissão de Sindicância ou elaborar um parecer recomendando o arquivamento do caso. Pelo regimento, se for pela abertura de sindicância, a decisão ainda precisa ser respaldada pela presidência da Casa. Mas como, neste caso, o próprio presidente João Paulo encaminhou o pedido, não há dúvidas de que a decisão do Corregedor terá o aval da presidência, caso seja pela sindicância.

- Não posso antecipar nada. É certo, no entanto, que darei um despacho na próxima segunda à luz do Código de Ética - disse Piauhylino que, embora estivesse fora de Brasília, ontem mesmo remeteu o pedido de investigação à assessoria jurídica da Corregedoria, responsável pela avaliação prévia.

O pedido de sindicância, articulado nas últimas 72 horas, foi uma reação do Palácio do Planalto, com o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à iniciativa de Garotinho. Ainda em Porto Alegre (RS), onde participou do Fórum Social Mundial, o presidente Lula, depois de ler a reportagem publicada pelo JB sobre a Operação Locadora, autorizou os ministros da área política a iniciarem a contra-ofensiva.

Entraram em campo os ministros da Coordenação Política, Aldo Rebelo, e o chefe da Casa Civil, José Dirceu. Anteontem, ainda na base aérea, pouco antes de embarcar para Davos, na Suíça, Dirceu recebeu um telefonema de João Paulo comunicando que daria encaminhamento ao pedido de investigação, protocolado na Secretaria-Geral da Mesa pelo deputado Wilson Santiago. O recado foi transmitido logo em seguida a Lula.

Na avaliação do deputado do PMDB, Wilson Santiago, a apuração das denúncias se justifica ''porque os fatos relatados pela imprensa provocam na opinião pública suspeitas quanto à conduta ética dos integrantes desta Casa e à real motivação de filiações partidárias, o que, em última análise, afeta a imagem da instituição''.

O movimento está sendo chamado internamente no partido de Operação Locadora porque, pelo acordo, os deputados filiados poderiam, se julgassem conveniente, retornar aos seus partidos de origem em 45 dias, depois da eventual eleição de Saraiva Felipe e Virgílio. Seriam apenas ''locados''. Uma benesse - cargo ou verba - também poderia fazer parte do acordo.

Anteontem, Anthony Garotinho garantiu que a filiação dos parlamentares ao PMDB não era uma medida hostil ao presidente da República.