Título: PF prende quadrilha da enfermagem
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Fonte: Jornal do Brasil, 29/01/2005, País, p. A3

Grupo que atuava no Conselho Federal da categoria fraudou licitações e desviou R$ 50 milhões dos cofres públicos.

A Polícia Federal desmontou ontem uma quadrilha que desviava dinheiro no Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). A operação Predador, realizada ontem em seis estados, resultou na prisão de 17 pessoas, sendo cinco da diretoria do Cofen - entre elas o presidente, Gilberto Linhares. As acusações contra o grupo são de peculato, formação de quadrilha, fraude em licitação, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.

De acordo com o delegado José Mariano, do Grupo Missão Suporte, que coordena a ação, os acusados chegaram a causar um prejuízo da ordem de R$ 50 milhões aos cofres públicos.

A operação foi deflagrada após investigações realizadas a partir de um inquérito de 1998, da Delegacia Fazendária. Foram expedidos 18 mandados de prisão preventiva e 20 mandados de busca e apreensão no Rio, no Piauí, em Alagoas, em Goiás, no Rio Grande do Norte e em Sergipe.

O presidente Gilberto Linhares foi preso durante a madrugada em Aracaju (SE). Os outros acusados, ligados à diretoria do conselho, são o vice-presidente João Aureliano Amorim de Sena (preso em Natal) e três ex-presidentes. A presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Sergipe, Hortênsia Linhares - mulher do presidente do Cofen -, o presidente do Coren de Goiás, Nelson da Silva Parreiras, e a ex-presidente do Cofen Iva Maria Barros Ferreira. Foram presos também quatro funcionários do Cofen e cinco sócios de empresas acusadas de fraudar notas.

O Conselho Federal recebe contribuições de enfermeiros. De acordo com as investigações, a diretoria desviava dinheiro com notas frias.

Parte dos recursos teria sido desviada para financiamentos de campanhas. As suspeitas envolvem o ex-deputado federal José Carlos Pires Coutinho e um vereador do Rio, cujo nome não foi divulgado pela polícia.

O desvio de dinheiro era feito com licitações superfaturadas, segundo a Polícia Federal. O mesmo grupo de empresas sempre ganhava as licitações. Em 1997, a diretoria do conselho chegou a comprar cartuchos de impressora por R$ 400. Uma agência de viagens no Rio vendeu R$ 6 milhões em passagens aéreas para o Cofen durante em cinco anos.

Desde 1990, o mesmo grupo acusado se alternava na presidência do Conselho. Em 1997, Maria Lucia Tavares assumiu a presidência. Ela fez denúncias à PF, ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas da União. Depois de ter um assessor assassinado, ela se mudou para Belém. O atual presidente do Cofen, Gilberto Linhares, é suspeito de ser o mandante do crime. Entre os sete crimes pelos quais está sendo investigado, Linhares também é acusado de ser o mandante no assassinato de um casal de enfermeiros no Rio em 1999. Ele nega as acusações.

O Cofen divulgou nota se defendendo das acusações.

- Estamos tomando as medidas cabíveis para que os fatos noticiados na imprensa possam ser devidamente analisados e esclarecidos pelos órgãos competentes, a fim de que seja desfeito o mal-estar gerado - afirma o texto divulgado pela assessoria.