Título: Votação começa calma só no exterior
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Fonte: Jornal do Brasil, 29/01/2005, Internacional, p. A7

Iraquianos expatriados votam em 14 países abrindo a primeira eleição geral no país em 50 anos. Violência continua em Bagdá

BAGDÁ - Milhares de iraquianos expatriados de 14 países começaram ontem a votar na primeira eleição multipartidária do Iraque em mais de 50 anos. Devido ao fuso horário, o primeiro destes votos foi registrado na Austrália. No total, 280 mil pessoas se inscreveram nas listas eleitorais, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Eles começaram a votar na Austrália, na Grã-Bretanha, no Canadá, na França, na Alemanha, no Irã, na Holanda, na Suécia, na Síria, na Turquia, nos Emirados Árabes Unidos, nos Estados Unidos e na Jordânia. Para o primeiro-ministro Iyad Allawi, trata-se da realização de um sonho.

- Os iraquianos estão perto de escolher seu destino, seus líderes e seu futuro - afirmou.

Em Amã, Jordânia, os eleitores não escondiam a satisfação.

- É a primeira vez em minha vida que vou votar de forma livre e ninguém vai me impedir. Se tudo sair bem, algum dia, espero que não muito distante, poderei voltar a Bagdá em paz - disse Monique al Khalidi, dona-de-casa de Mosul.

- Não conheço mais que os homens e mulheres que vi na TV, mas creio que é meu dever votar de acordo com minhas crenças pelo futuro do meu país - afirmou Ali Mohsen al Hather, empresário iraquiano que mora na Jordânia há 18 anos. - O que não entendo bem é por que cédulas grandes e com tantos nomes.

Na Síria, só 16.500 dos 200 mil iraquianos aptos se inscreveram..

- É uma sorte poder votar fora do Iraque, pois temos segurança e votamos com liberdade. Tenho uma amiga lá que trabalha na campanha e está aterrorizada - disse Anita Anis, química de Basra.

A cabeleireira de 22 anos Rabiea Jumari, de Karbala, sente saudade de seu país e espera que as eleições tragam paz para que volte. Jumari disse que não sabia nada sobre o pleito, mas que votou porque o aiatolá Ali al Sistani, máxima autoridade xiita, pediu. Ela optou pela Aliança Iraquiana Unida, a legenda de Sistani.

- Esperei este momento durante anos e agora não posso deixar de chorar. Espero que seja o primeiro passo para a democracia - disse a curda Samira Jaber, de 35 anos, exilada na Síria há 10 anos.

Em Washington, o presidente George Bush reafirmou, na posse da nova secretária de Estado, Condoleezza Rice, que é ''o primeiro passo'' de um processo democrático e elogiou a ''coragem dos iraquianos'' frente à guerrilha.

- Esta história mudará o mundo, pois a chegada da democracia no Iraque servirá de exemplo para os reformistas em todo o Oriente Médio - frisou.

Ao The New York Times, Bush afirmou que as tropas americanas abandonariam o Iraque se os dirigentes eleitos pedissem. No entanto, avisou que o mais provável era que peçam aos EUA que permaneçam ''para prestar assistência, e não mais como ocupantes''.

No Iraque, a situação é tensa. Desde o início da semana, 40 colégios eleitorais foram atacados, principalmente ao Norte de Bagdá. Medidas excepcionais foram tomadas para dar segurança às regiões sunitas, em Bagdá, na cidade santa xiita de Najaf, onde o centro histórico foi interditado, e em Mosul (Norte), onde a circulação de carros está proibida. O toque de recolher também entrou em vigor.

Os iraquianos elegerão amanhã seus representantes na Assembléia Nacional, cuja primeira tarefa será redigir a nova Constituição, e nos conselhos provinciais. Os curdos também terão de renovar seu Parlamento regional.