Título: A bola da vez
Autor: Carlos Zarur
Fonte: Jornal do Brasil, 29/01/2005, Outras opiniões, p. A11

Ao não descartar a possibilidade de invadir o Irã, o presidente dos Estados Unidos, George Bush, confirma a tendência intervencionista dos Estados Unidos e a determinação do seu pseudo direito de invadir qualquer país que não concorde com suas idéias. Depois de sua reeleição, Bush conseguiu confortável maioria no Congresso. Com isto, poderá, com rara liberdade, dar continuidade à sua política externa de acentuado estilo unilateral e radicalizar a idéia de que os Estados Unidos têm o direito de estender seus tentáculos a qualquer lugar do mundo para ¿defender seus interesses¿. A invasão do Iraque foi claramente aprovada pelo eleitorado o que coloca outros países, como o Irã, na mira.

Teerã, por sua vez, adverte que pode fazer frente a um possível ataque dos Estados Unidos, que acusam o país islâmico de possuir um programa secreto de armas nucleares. Teerã ameaça dizendo que tem o ¿maior meio de intimidação¿, sem especificar, porém, que meio é esse. Tal afirmação poderia confirmar que o Irã teria, de fato, armas nucleares; ou seria apenas mais uma bravata? Conferir, certamente, seria um perigo, principalmente diante da pouca confiabilidade dos serviços secretos aliados que vêm falhando sistematicamente no que concerne ao Iraque.

É certo, no entanto, que o Irã cobrará, no caso de invadido, uma quantidade de vidas de soldados norte-americanos muito maior do que os mais de mil que já morreram no Iraque. Não devemos nos esquecer que o Irã pode atingir de maneira direta países aliados dos Estados Unidos no Oriente Médio, transformando aquela região, definitivamente, em um barril de pólvora. Em outubro, anunciou testes bem sucedidos de seus mísseis balísticos Shahab-3, com alcance de 2 mil quilômetros. Isso quer dizer que poderiam alcançar a Europa, Israel e bases americanas no Golfo.

Os Estados Unidos, em conjunto com seus aliados ingleses, ainda não conseguiram sequer o domínio do Iraque. Uma surpreendente resistência guerrilheira, bem organizada, está conseguindo manter os invasores em um verdadeiro inferno onde seus soldados morrem todos os dias e a população civil sofre a carnificina do terror. Estes fatos, poderão fazer com que o Presidente Bush e seus falcões pensem duas vezes antes de mais uma invasão.

A história está se repetindo. Da mesma maneira que ocorreu antes da guerra do Iraque, a Europa, com exceção da Inglaterra, pressiona o Governo norte-americano a não fazer nova intervenção. Fica claro que a Comunidade Européia tem mais a perder, com uma possível invasão do Irã, do que já perdeu com a invasão do Iraque.

A esperança de todos é que as ameaças dos Estados Unidos de invadir o país islâmico, façam parte, apenas, de um intrincado jogo de pressões para que Teerã autorize a fiscalização internacional de seu programa nuclear. De qualquer maneira, é aconselhável que os aiatolás ponham suas barbas de molho, pois o Irã é a bola da vez.