Título: Cúpula da tortura vai para a cadeia
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Fonte: Jornal do Brasil, 29/01/2005, Internacional, p. A12

Chefes da área repressiva da ditadura Pinochet são presos. General enfrenta policiais com arma

SANTIAGO - O governo chileno comemorou a prisão da cúpula da Direção de Inteligência Nacional (Dina), a temida polícia secreta responsável por todo o aparato repressivo durante a ditadura do general Augusto Pinochet, incluindo seu chefe, o general da reserva Manuel Contreras. É a primeira vez que um oficial chileno é preso por crimes relacionados à execução de opositores.

- É um acontecimento histórico - classificou o ministro do Interior chileno, José Miguel Insulza, ao comentar a prisão dos acusados pelo seqüestro do jovem militante esquerdista Miguel Angel Sandoval, em 1975. A detenção foi realizada após a prisão do chefe da Dina, o general reformado Manuel Contreras, em sua casa, onde ficou escondido por mais de três horas. Contreras havia se negado a comparecer ao tribunal para ser notificado da condenação a 12 anos de prisão pelo sumiço de Sandoval.

- Acreditamos que seja apenas o começo e estamos lutando para que todos os responsáveis pelo genocídio no Chile sejam levados à cadeia - comemorou Lorena Pizarro, presidente da Associação dos Parentes de Desaparecidos. Calcula-se que mais de 3 mil pessoas tenham sido mortas pela ditadura de PInochet.

O chefe da Dina foi levado pelos policiais com dificuldade. Eram 25 agentes em nove carros para cumprir a ordem. Manuel Contreras resistiu à prisão e enfrentou com uma arma de fogo os agentes, que foram obrigados a ser enérgicos para conseguir enfim mobilizar o militar. Na rua, houve um grande tumulto, com manifestantes chutando a viatura policial e jogando ovos no prisioneiro. Do prédio, num subúrbio de Santiago, o general foi levado a um juiz que determinou sua transferência para um presídio onde estão recolhidos outros militares.

O ex-chefe da Dina já havia estado diante da Justiça antes. Ele já havia cumprido pena de sete anos, até 2001, pelo assassinato do ex-chanceler chileno Orlando Letelier, ocorrido em 1976, nos Estados Unidos. O atentado, na ocasião, gerou uma comoção nos EUA porque a secretária de Letelier, Ronnie Moffit, também morreu.

O advogado de Contreras, Juan Carlos Manns, alegou ''excesso'' de violência e reclamou que a polícia invadiu o apartamento e agarrou o general diante da família. O ministro diminuiu a importância dos incidentes.

- O objetivo era cumprir uma ordem judicial de levar estas pessoas à prisão, e ele foi cumprido - disse. - O problema foi provocado quando o senhor Contreras resistiu e afirmou que não iria comparecer, portanto o ministro (Solís) teve que deferir uma ordem de prisão e esta foi cumprida dentro de um prazo razoável de tempo - acrescentou Insulza.

Também ontem, 15 ex-agentes da Inteligência chilena foram condenados pela execução de doze de militantes de esquerda em 1987. As condenações alcançaram o ex-diretor do serviço secreto que sucedeu à Dina, o CNI, general Hugo Salas Wenzel (prisão perpétua), o chefe de operações, major Álvaro Corbalán (15 anos de cadeia). Os outros 13 agentes foram sentenciados a penas de até cinco anos.