Título: Lula comemora expansão de 5,3%
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Fonte: Jornal do Brasil, 29/01/2005, Economia & Negócios, p. A17

Presidente antecipa dados sobre crescimento do PIB em 2004 e arranca aplausos em Davos, ao cobrar combate à pobreza

DAVOS, SUÍÇA - Em uma crítica aos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu a iniciativa americana de abrir guerra contra o Iraque a uma estrutura que considera obsoleta da Organização das Nações Unidas (ONU). Em discurso no Fórum Econômico Mundial, Lula voltou a cobrar participação permanente do Brasil e de outros países no Conselho de Segurança da ONU. - Nós almejamos efetivamente democratizar as Nações Unidas, porque se a ONU fosse mais democratizada e mais países estivessem no Conselho de Segurança, certamente a gente não teria tido a guerra do Iraque como tivemos por decisão unilateral de um país - disse.

Lula disse que ''não dá para a instituição Nações Unidas'' manter até hoje a mesma forma de funcionamento estabelecida no pós-guerra.

- Já se passaram 60 anos, tudo mudou, também as Nações Unidas têm de mudar nas suas organizações e no seu centro de decisões - criticou.

As declarações sobre a ONU foram em resposta à pergunta do presidente e fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, sobre o que Lula gostaria de apresentar como conquista positiva de seu governo se voltasse a Davos em dois anos. Em tom de brincadeira, Lula disse que só voltaria se tivesse boas notícias.

- As más notícias vocês ficarão sabendo pela imprensa - disse. - Vim de Porto Alegre mais otimista, com muito mais certeza de que o Brasil não jogará fora esta oportunidade que o momento histórico e político lhe deu, que o Brasil vai continuar crescendo, gerando emprego, vai fazer com que haja aumento da massa salarial, vai continuar distribuindo renda.

O presidente aproveitou para informar que a economia cresceu 5,3% no ano passado, na primeira vez que um integrante do governo fala em um número preciso de expansão do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país) referente a 2004. Até agora, só se dizia que a economia teria crescido em torno de 5%. O dado deve ser divulgado oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos próximos dias.

Lula disse também que está mais otimista do que o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, sobre o desempenho comercial neste ano. O presidente acredita que o Brasil poderá superar os US$ 108 bilhões em exportações.

- Trabalhamos para que este ano a gente ultrapasse, sou mais otimista que o Furlan, US$ 108 bilhões - disse e começou ontem mesmo o trabalho.

O governo espera concluir as negociações em torno do acordo bilateral entre União Européia e Mercosul neste ano, antes da reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), marcada para dezembro. Por conta disso, conversou com o ex-primeiro-ministro português Manoel Barroso Durão.

Nos 20 minutos de sua mensagem, Lula tirou aplausos da platéia muitas vezes quando falou sobre temas ligados ao combate à fome e à pobreza. Mas o silêncio tomou conta da platéia após a crítica aos EUA. Os presentes ficaram em silêncio, entre os quais os ministros Antônio Palocci Filho (Fazenda), Celso Amorim (Relações Exteriores), José Dirceu (Casa Civil), Eunício Oliveira (Comunicações) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento).

- Há muitos anos eu me convenci de que, se nós não transformássemos o problema da miséria e da fome num problema político, não haveria solução. Nós teríamos empresários colaborando, governante fazendo medidas, igreja colaborando, mas não haveria mudanças estruturais - afirmou Lula. E, por isso, recebeu o afago do vocalista do U2, Bono Vox, que milita em campanhas humanitárias na África. Bono disse a jornalistas brasileiros que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um ''grande homem e que mudou a agenda de Davos''.