Título: Um ano de impunidade
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 24/01/2005, Brasília, p. D1

Campeão de acidentes ainda não foi julgado

A cerimônia será discreta. Mas, nem por isso, vazia. Um ano após o falecimento do advogado Francisco Augusto Nora Teixeira, 29 anos, morto em um acidente brutal na Ponte JK, a família quer apenas pedir conforto. E justiça para ver o jovem que dirigia uma Mercedes a 165 km/h, e que provocou a morte de Francisco ao colidir contra a traseira do carro do advogado, responder pelo crime que cometeu. A cerimônia ocorre às 19h na Paróquia de São Miguel Arcanjo e Santo Expedito, na 303/4 Norte. O acidente colocou a Ponte JK nas estatísticas de morte no trânsito do DF e chocou a cidade. Francisco voltava para casa, no Lago Sul, por volta de 1h da manhã, depois de assistir a um jogo da seleção brasileira na casa da noiva. Nunca bebia. E estava na velocidade da pista, conforme apontou à época a perícia da Polícia Civil. Atingido pelo carro de Rodolpho Félix Grande Ladeira, 22 anos, no entanto, não completou o trajeto. Morreu na hora.

- Não queremos vingança. Mas não achamos certo que um pai de família, um jovem de bem, uma pessoa correta, tenha de se expor ao risco de morrer meramente por dirigir prudentemente na rua, como aconteceu com nosso garoto. O preparamos para contribuir como cidadão à sociedade. E dói demais saber que um desequilibrado que não tem nada a contribuir com a sociedade ceifou essa missão do nosso garoto. Era um rapaz fantástico - define o pai de Francisco, Carlos Augusto Teixeira Filho.

Francisco, que se casaria em um ano, dirigia pela faixa do meio da ponte, em direção ao Lago Sul, e teve a traseira do Santana atingida com tanta força que o veículo capotou de frente. Foi o terceiro acidente causado por Ladeira, que ainda protagonizou outra colisão duas semanas após aquela em que morreu o jovem advogado.

Na madrugada de 11 de julho de 2002, na Avenida das Nações, próximo ao Pier 21, Rodolpho bateu uma BMW M3 no Fiesta dirigido por Ivete da Silva Oliveira, de 47 anos. Ela teve uma costela fraturada e o carro completamente destruído. Em 7 de julho de 2003, o jovem colidiu um Fiat Marea Turbo contra um semáforo na CLS 112, por volta das 23h30. Derrubou o poste, mas não houve vítimas. Por último, em 2004, atingiu com um Honda Civic dois carros estacionados em frente ao Clube dos Previdenciários, na 912 Sul, ao fazer uma curva em alta velocidade.

Por conta do histórico considerável de acidentes, o estudante teve a carteira de motorista cassada pela Justiça, ao ser avaliado pelo juiz como um perigo para a sociedade. Agora, aguarda em liberdade por julgamento pela morte de Francisco, provavelmente pelo júri popular de Brasília. No final do ano passado, testemunhas do acidente afirmaram em juízo que Ladeira disputava um racha ao colidir contra o veículo de Francisco.