Título: MST promete retomar ocupações
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/01/2005, País, p. A6

SÃO PAULO - Apenas dois dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiar os ''amigos'' do MST, o comando do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) informou ontem que retomará os protestos em abril e avisou que não abre mão das ocupações como instrumento de pressão pela reforma agrária. Escalado ontem como porta-voz do MST, João Paulo Rodrigues disse que este será ''o ano da luta''.

A resposta do movimento foi dada numa manhã repleta de estocadas no governo - incluindo vaias ao representante do Ministério da Educação, Ricardo Enriques. Questionado sobre os acenos de Lula, Rodrigues negou mudanças nos ânimos do MST.

- Pelo contrário. Estamos muito animados. Porque não é um ano de eleição, nem tem essa história de ser o primeiro ano do governo Lula, também não tem a história de ser o último. É um ano em que não vamos ter desculpa. Nem para os movimentos sociais para não lutar, nem o governo para não fazer o que deve ter feito.

Segundo Rodrigues, a direção do MST se reunirá em março para discutir o calendário de atividades para abril. Na semana passada, Lula teria negociado com o movimento para evitar a mobilização. A direção do MST não quis confirmar a reunião, mas adiantou que os protestos estão mantidos.

O mal-estar apareceu na inauguração da Escola Nacional Florestan Fernandes, em que o principal coordenador do movimento, João Pedro Stédile, fez críticas ao governo federal. Ao citar a frase a frase ''Só o conhecimento liberta as pessoas'', do filósofo e revolucionário cubano do século 19 José Martí, Stédile ironizou:

- Esquecemos isso. Achávamos que era só virar presidente, virar ministro. É insuficiente - afirmou.

Ao citar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, com quem líderes do MST se encontrarão no dia 30 durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, Stédile voltou a criticar o governo.

- É bom o Rossetto anotar para dizer ao Patrus Ananias: A pobreza de uma sociedade só se resolve dando poder aos pobres. São palavras de Hugo Chávez - recomendou.

Cuba e Venezuela foram as referências na solenidade de lançamento da escola, para a qual, segundo o deputado petista Simão Pedro, ligado ao movimento, o PT não foi convidado.

Único ministro a participar do evento, Miguel Rossetto, do Desenvolvimento Agrário, foi sutilmente vaiado. Na saída, evitou comentar as declarações de Stédile de que a ocupação de latifúndios produtivos é uma ''legítima defesa''.

- Eles são independentes. O governo mantém a conduta de respeito aos movimentos sociais, mas isso não significa concordância com a opinião e as ações dos movimentos - afirmou o ministro, dizendo que duvida da ampliação de ocupações nos moldes do ''abril vermelho'' do ano passado.