Título: ''Acordo é viável''
Autor: Arthur Ituassu
Fonte: Jornal do Brasil, 24/01/2005, Internacional, p. A8

Entrevista WERNER BRANDSTETTER - Embaixador da Áustria

Embaixador da Áustria no Brasil, Werner Brandstetter é um defensor e propagador dos chamados ''novos valores europeus'', ligados à consolidação da União Européia (UE), como participante de peso da política mundial. Brandstetter não vê a UE como um player competidor dos EUA no plano internacional, mas como uma experiência bem-sucedida que pode ajudar o desenvolvimento de outros projetos de integração. Só fica menos animado quando o assunto é a política agrícola européia, que com subsídios e proteção tarifária impede a entrada das exportações primárias de países como o Brasil e outros em processos mais atrasados de desenvolvimento.

- Na primeira metade de 2006, a Áustria vai ocupar a Presidência (rotativa) da União Européia. O que isso significa de fato para o país?

- Em primeiro lugar, um desafio. Ainda mais para um país pequeno como a Àustria. No entanto, é também uma oportunidade de podermos trabalhar a agenda da Europa, tanto no que diz respeito a reformas internas quanto no que concerne a relações com outros países. Para nós, da Áustria, o ponto principal do nosso mandato será o encontro dos países-membros da UE com as nações da América Latina e do Caribe, onde estarão presentes, em Viena, senão estou enganado, 58 chefes de Estado.

- E o que pode sair de um encontro como esse?

- Nós já começamos a trabalhar. A reunião é de suma importância para a Áustria e para a Europa em geral. Nós achamos que países como o Brasil devem participar de esforços regionais de integração, como, de fato, já vem fazendo. Nós queremos ajudar. Temos experiência nisso e podemos ajudar. Além disso, temos muitas visões em comum como, por exemplo, o desejo pelo multilateralismo na política mundial. Espero que a reunião dê um impulso a forças políticas de cooperação entre a Europa e os países da América Latina.

- Mas como fica a questão da política agrícola européia, que dificulta muito, por exemplo, os acordos comerciais com o Mercosul?

- Esta é uma questão complicada. A política agrícola européia está sendo discutida. Tanto no âmbito das negociações com o Mercosul mas mesmo também na Organização Mundial de Comérico (OMC). Mas vai levar tempo. Não foi possível concretizar os anseios, por exemplo, para a assinatura de um acordo comercial UE e Mercosul no fim do ano passado, como foi anunciado. A negociação precisa ser realista e balancear as posições dos dois lados. O ministro da Agricultura austríaco esteve no Brasil há pouco tempo e teve bons encontros com as autoridades brasileiras. A Áustria é um país que defende com vigor um acordo balanceado com o Mercosul, é viável.

- O senhor acha que a tendência de valorização do euro vai se manter por muito tempo?

- O euro é um caso de sucesso. É difícil se lembrar de como a moeda única gerou reações em muitas populações da Europa, mesmo na Áustria e também na Alemanha. No geral, as vantagens foram enormes. Os benefícios para o comércio e o turismo entre os países são mais que significativos. A moeda hoje é amplamente aceita entre as populações. Há poucos anos, quando o mercado ainda tinha dúvidas sobre a viabilidade da moeda, o valor do euro estava baixo e a tendência era de baixa. Agora a moeda está forte, valorizada. Tudo isso é parte de ciclos econômicos.

- E como o senhor vê hoje as relações entre os Estados Unidos, sob o governo de George Bush, e a União Européia? Muitos analistas vêem a Europa como um ator competidor dos EUA no cenário global.

- Prefiro responder esta questão sob a perspectiva do papel da Europa no contexto internacional. A história da Europa nos coloca hoje sob o prisma de três dívidas. Uma dívida com a paz, uma dívida com a estabilidade e uma dívida com o desenvolvimento, com o bem-estar. A razão de ser da União Européia é a de integrar as pessoas. É a da inclusão. Queremos ser um ator global no sentido positivo. A Europa é o mais importante doador de ajuda financeira ao desenvolvimento do mundo.

- Mas como fica então o caso da Turquia? Quando os turcos serão finalmente aceitos na União Européia?

É muito difícil prever. A Europa resolveu abrir negociações e isso já é um passo bastante importante. A Áustria é favorável à entrada dos turcos, mas há casos e casos. Há o problema do tamanho do país e outras questões. Tem que haver algumas salvaguardas, flexibilidade. Deve haver regras e soluções negociadas. A Europa compartilha da entrada da Turquia.