Título: Corrida para ser delegado em Brasília
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 24/01/2005, Brasília, p. D1

Concurso atrai advogados de todos os Estados Perguntas complexas e com alto grau de dificuldade. Foi assim que os candidatos às 82 vagas para delegado de Polícia Civil do DF avaliaram as provas discursivas aplicadas durante este fim de semana. O alto salário do cargo - R$ 8 mil - atraiu gente de vários estados brasileiros. Apenas 21 candidatos dos 432 selecionados para esta segunda etapa faltaram ao exame, que correu o risco de ser cancelado pela Justiça um dia antes. No sábado, foram aplicadas provas de Direito Penal e Processual Penal. Ontem foi a vez de Direito Administrativo, Constitucional e Civil. Leandro de Jesus Imperador, 25 anos, conta que os exames foram ''extremamente difíceis'', não apenas pelo conteúdo, mas também por causa do curto tempo - cinco horas corridas, de 8h20 às 13h20. Formado em Direito há dois anos, Leandro veio de Presidente Prudente (SP) e para o terceiro concurso que presta para delegado.

- Tracei uma linha profissional: quero começar como delegado, passar por um Ministério Público e finalmente entrar para a magistratura - diz.

Para Jonathas Santos Silva é o primeiro. O também paulista João de Ataliba Nogueira, 27, está acostumado a viajar o País em busca de um bom emprego, e já prestou concursos em Minas Gerais e no Mato Grosso do Sul. Na capital federal, segundo ele, estão os melhores salários. Em São Paulo, um delegado recebe R$ 2,3 mil por mês. Em Minas, R$ 3 mil. Por aqui, bruta, a remuneração fica em torno de R$ 8 mil.

Sobre as provas, João questionou a restrição de linhas para as respostas - ''na recomendação de uma questão o limite era de 20 linhas e na folha de respostas vieram desenhadas 25. Qual deveria seguir?''. Ele também reclamou do tempo: ''Não deu nem para fazer rascunho''.

A PC enviou pelo menos 30 policiais para ajudar na fiscalização. Eram papiloscopistas e agentes da Divisão de Operações Especiais (DOE) e do serviço de inteligência. Doze delegados verificaram qual material poderia ser consultado durante o exame.

Ao todo, o concurso promovido pelo Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) na Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ufrj) recebeu 6.606 inscritos, mas a maioria foi eliminada na primeira etapa, em dezembro, nas provas objetivas. Os aprovados nos exames do fim de semana - o resultado sai no dia 4 de março - terão ainda que passar por outras cinco etapas: prova oral, exame biométrico, capacidade física, avaliação psicológica e investigação social.

Suspensão - Os exames realizados ontem e sábado quase foram suspensos na sexta-feira, a pedido da Justiça. No dia 7 de janeiro, a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público ajuizou um pedido de liminar no Superior Tribunal de Justiça, indeferida, pedindo a anulação do processo de seleção. A principal irregularidade apontada pelo Ministério Público seria a de que um dos filhos do delegado João Rodrigues dos Santos, que fiscalizou a impressão das provas no Rio de Janeiro, teria sido aprovado. O edital proíbe que parentes de membros da comissão do concurso até 3º grau participem do processo.

- Vistoriar a impressão não quer dizer que ele tem acesso às provas, como não aconteceu. Verifica-se apenas o parque gráfico - explica o chefe do concurso em Brasília da NCE/Ufrj, Luiz Fernando Ferreiro.

Ainda na primeira etapa, denúncias de que professores de cursinho preparatório para delegado haviam participado da elaboração das provas, o que é vedado, suspenderam a seleção dois dias antes da prova. A PC, conseguiu reverter a decisão.