Título: Irmã de refém conta com clemência
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/01/2005, Internacional, p. A7

Família de engenheiro brasileiro seqüestrado pela guerrilha iraquiana aguarda contato e crê que nacionalidade pode ajudar

Depois de quatro dias do seqüestro do engenheiro brasileiro João José Vasconcelos Jr., 49 anos, por grupos extremistas no Iraque, sua irmã Isabel Cristina Vasconcelos, que mora em Juiz de Fora, Minas Gerais, resolveu falar. Ela disse acreditar na ''clemência'' dos seqüestradores e ressaltou que seu irmão ''não é inimigo do Iraque''.

- Ele tem o maior respeito pelo povo iraquiano e era muito querido em Bagdá e Beiji, onde trabalhava. O Brasil não foi favorável a esse ataque e não enviou tropas para a invasão do país. Eu tenho esperança que tudo acabe bem - disse, lembrando a recente libertação de oito chineses que estavam em poder da guerrilha.

Isabel disse que a família espera um possível contato dos seqüestradores a partir de hoje.

- É uma situação muito angustiante, mas a gente está procurando um fio de esperança, trabalhar com as datas. Estamos dando um prazo para nós mesmos até segunda-feira.

A família do brasileiro seqüestrado conta que recebeu a informação de que os seqüestradores demoram, em média, três a quatro dias para fazer algum contato.

- Tão logo ocorreu o seqüestro, uma pessoa da construtora ligou para minha cunhada no Rio para contar.

A irmã de João informou que os pais do engenheiro têm sido muito afetados pelo drama que atingiu a família.

- Hoje eles foram para casa porque a mobilização da imprensa está muito grande. Eles não têm condições de conversar, nem de viver direito - lamentou, emocionada.

Segundo Isabel, a família não entrou em contato com o Itamaraty, mas espera contar com o apoio do governo para solucionar o caso. Ela também diz acreditar que o fato de João ser brasileiro pode ajudá-lo.

- Achamos que não só o povo brasileiro como o governo têm que saber que ele é um cidadão nosso. Ele sempre foi claro ao dizer que o povo brasileiro era muito bem aceito lá. Sempre encontrou muita receptividade no Iraque por isso - garantiu.

No sábado, rebeldes dos grupos Brigadas de Al Mujahideen e Ansar al-Sunna - ligados ao jordaniano Abu Musab al-Zarqawi - assumiram o seqüestro do funcionário da construtora Norberto Odebrecht, capturado quarta-feira.

Diplomatas estão em negociação com organizações religiosas da Jordânia, da Síria e do Iraque, ligadas à Associação dos Clérigos Islâmicos - a maior organização sunita do Iraque, cuja influência com os grupos rebeldes é reconhecida no país. Eles já conseguiram libertar três japoneses e um jornalista francês.

O embaixador do Brasil em Amã, Antônio Carlos Coelho da Rocha, afirmou ontem que a construtora conduzirá as eventuais negociações para a libertação do engenheiro. Mas a assessoria de imprensa da Odebrecht afirmou que a empresa está em absoluta sintonia com as ações do Itamaraty desde o começo do drama vivido por seu funcionário, e que a ajuda do governo brasileiro é imprescindível.

Em um vídeo reproduzido pela TV Al Jazira no sábado, os seqüestradores mostraram a identidade do engenheiro, mas o refém não apareceu.

No final de semana, a notícia da captura de Vasconcelos foi destaque nos sites de vários jornais internacionais. No francês Le Monde, uma reportagem sobre o aumento da violência no Iraque, devido à proximidade das eleições, cita o seqüestro. O The New York Times também traz reportagem sobre o caso, assim como o diário La Republica, do Peru, entre outros periódicos.

Na cidade iraquiana de Nassíria, 320 km ao Sul de Bagdá, um incêndio no principal hospital da região matou pelo menos 15 pessoas e feriu outras 75. Acredita-se que o acidente tenha sido causado por um curto-circuito.