Título: Venezuela responde com ameaça
Autor: Arthur Ituassu
Fonte: Jornal do Brasil, 14/01/2005, Internacional, p. A7

Colômbia anuncia recompensas milionárias para o seqüestro de líderes das Farc, 'em qualquer lugar do mundo'

O governo da Venezuela respondeu ontem, com ameaças, à declaração do ministro da Defesa colombiano, Jorge Uribe, que assumiu, na quarta-feira, que Bogotá pagou pela captura de um líder das Forças Armadas Rebeldes da Colômbia (Farc), em Caracas. Rodrigo Granda, considerado o ''ministro das Relações Exteriores'' dos rebeldes, foi detido na capital venezuelana, em 13 de dezembro de 2004. A Venezuela acusa a Colômbia de violação da soberania nacional.

- Ao aceitar que pagou um suborno para seqüestrar uma pessoa fora da Colômbia, o governo colombiano está reeditando a lei da selva nos Andes e participando de um delito que pode ter conseqüências internacionais - afirmou o vice-presidente venezuelano José Vicente Rangel, que acusou Bogotá de expandir o Plano Colômbia para toda a região.

O governo venezuelano chamou de volta para consultas o embaixador em Bogotá, Carlos Ramírez, em um jargão diplomático que representa uma deterioração das relações entre os dois países.

Há muito tempo Bogotá acusa o governo de Hugo Chávez de simpatizar-se com e dar abrigo aos rebeldes das Farc, que lutam contra o governo colombiano desde 1965, em uma guerra civil que já matou mais de 30 mil pessoas.

Para incendiar ainda mais o que vem sendo chamado de o ''caso Granda'', o governo boliviano anunciou ontem que vai pagar recompensas pela captura, ''em qualquer lugar do planeta'', de chefes das Farc.

- Seria maravilhoso se todos os caçadores de recompensas do mundo trabalhassem para prender esses bandidos - disse o vice-presidente colombiano, Francisco Santos.

Segundo a agência americana Stratfor de informações estratégicas, em um relatório divulgado recentemente, a mensagem é clara: ''Os líderes das Farc não mais estarão seguros, independente de onde estiverem escondidos'', diz o texto. ''O caso Granda, no entanto, confirma que a Venezuela está protegendo rebeldes'', conclui.

Bogotá anunciou que vai pagar US$ 2 milhões pela captura de nomes como Manuel ''Tirofijo'' Marulanda, comandante dos 18 mil homens das Farc. Sobre a captura de Rodrigo Granda, a Colômbia se recusa a informar a quem pagou US$ 1,5 milhão pelo seqüestro do dirigente em Caracas.

- Como reagiria Bogotá se a Venezuela decidisse subornar policiais e militares colombianos para que cometam na Colômbia delitos como o que foi perpetrado em Caracas? - perguntou o vice-presidente venezuelano.

Oito militares venezuelanos foram presos suspeitos de participação no ''caso Granda''.

- É muito difícil pensar que a captura em território venezuelano de um membro das Farc tenha sido realizado com total autonomia por parte das forças de segurança colombianas. Sem a colaboração de algum setor venezuelano e dos assessores americanos estacionados na Colômbia, seria muito difícil uma operação deste tipo ser realizada - disse, ao JB, o professor Juan Tokatlian, especialista renomado em questões de segurança no Hemisfério e diretor do departamento de Relações Internacionais da Universidade de San Andrés.

Dos detidos, cinco são oficiais da Guarda Nacional e outros três são do Exército. O anúncio das prisões foi feito pelo general Miguel Rodríguez, mas o governo venezuelano baixou uma norma só autorizando o ministro da Defesa, Jorge García, o ministro do Interior, Jesse Chacón, e o presidente Hugo Chávez a se pronunciar sobre o ''caso Granda''.

Vinte militares morreram na madrugada de ontem no acidente de um helicóptero Black Hawk que realizava trabalhos do Plano Colômbia, no sul do país, perto da fronteira com o Equador.

- A aeronave Black Hawk fazia o apoio a operações militares contra o narcotráfico, planejadas e dirigidas contra os grupos que delinqüem no Sul do país - disse o general Reinaldo Castellanos.

O presidente colombiano, Alvaro Uribe, possui hoje uma aprovação nacional em torno de 70% para levar à frente no país uma campanha militar de linha-dura financiada pelos Estados Unidos, sob o jargão do Plano Colômbia, contra os rebeldes das Farc.