Título: Eleições no Iraque geram violência
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Fonte: Jornal do Brasil, 15/01/2005, Internacional, p. A7

BAGDÁ - Os atentados contra a comunidade xiita se multiplicam com a aproximação das eleições gerais do dia 30 de janeiro, para as quais o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, pediu uma participação em massa da população. ¿ Se a situação no Iraque não mudar, há riscos de guerra civil e de divisão do país em pequenos Estados ¿ disse o primeiro-ministro egípcio, Ahmad Nazif.

Annan convocou todos ¿os iraquianos a exercerem seu direito democrático de votar¿, apesar das intimidações e da falta de condições.

¿ Sempre disse que as eleições devem ser as mais amplas possíveis, mas hoje é indispensável associar os nacionalistas árabes, em particular os sunitas, a este processo ¿ frisou.

A principal formação sunita no Iraque, o Partido Islâmico Iraquiano, vai boicotar as eleições. Os sunitas representam um terço da população e os xiitas 60%. Por isso, os ataques contra estes últimos se intensificam na medida em que as eleições se aproximam.

Ontem, sete iraquianos morreram e outros 38 ficaram feridos na explosão de um carro-bomba em uma mesquita xiita em Jan Beni Saad (45km a Nordeste de Bagdá). O ataque ocorreu no dia seguinte do assassinato de um assessor do aiatolá Ali Sistani, a maior autoridade religiosa xiita no Iraque e defensor das eleições, o xeque Mahmud al Madahaini.

O influente Comitê dos Ulemás Muçulmanos (sunita) denunciou o fato, classificando-o de ato criminoso e acusou os autores de tentar criar um conflito religioso. O Comitê, que se opõe à ocupação americana, decidiu boicotar as eleições patrocinadas por Washington.

Entre os xiitas, o xeque Sadredin al Qubanji pediu à comunidade internacional que realize o pleito na data prevista e se declarou otimista sobre a participação dos sunitas, apesar dos obstáculos impostos pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi. Ao mesmo tempo, o chefe radical xiita Moqtada Al-Sadr pediu ao presidente americano e aos países vizinhos ao Iraque que se mantenham afastados do processo eleitoral.

Um membro da comissão eleitoral, Abdel Kerim Jasem al Ubeidi, foi assassinado por vários homens armados. Na terça-feira, um funcionário da comissão declarou que sete de seus membros haviam sido mortos desde que começaram os preparativos das eleições.

A situação pode se complicar especialmente na capital iraquiana em função da fuga de 28 prisioneiros que conseguiram dominar os guardas que os escoltavam. O grupo, formado em sua maioria por combatentes estrangeiros capturados no Iraque, estava em um ônibus que seguia da prisão de Abu Ghraib para outro local. Amarrados apenas com cordas, eles puderam se soltar e tomar as armas dos guardas, que foram feridos. Até o fim do dia, apenas 10 detentos tinham sido recapturados pelos americanos.

Paralelamente, o setor petroleiro também voltou a ser alvo de sabotagens por parte dos insurgentes que tentam impedir as exportações do óleo cru, fonte essencial de receita.

¿ Uma forte explosão foi registrada no oleoduto perto da estação de Fatha, a 7km de Baiji (200 km ao Norte de Bagdá) ¿ anunciou o comandante Khedr Abdalá, da Força de Proteção das Instalações Petroleiras.

A França propôs formar, em solo francês, 1.500 gendarmes iraquianos, anunciou um porta-voz do presidente iraquiano, Ghazi al Yawar. Em contrapartida, o comandante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Europa, o general americano James Jones, afirmou que a Otan vai reduzir sua missão de treinamento do novo Exército iraquiano.

Ontem, a corte marcial no Texas declarou o soldado Charles Graner, de 36 anos, culpado dos abusos cometidos contra prisioneiros iraquianos em Abu Ghraib, a prisão sob controle americano perto de Bagdá.

Os dez oficiais que integraram o júri decidiram que Graner ¿ fotografado sorrindo ao lado do cadáver de um preso que morreu de tortura ¿ é culpado de conspiração para maltratar os detentos, negligência no cumprimento de seu dever, maus-tratos, agressão agravada e atos indecentes. O militar, que pode ser condenado a 17 anos e meio de prisão, se declarou inocente.

O veredicto foi divulgado três dias depois que a primeira testemunha assegurou que Graner era o principal torturador de Abu Ghraib. O prisioneiro sírio Amin al-Sheikh contou que Graner o obrigou a comer porco e a beber álcool, o que é proibido pela fé muçulmana.