Título: Sem preparo, projeto e competência
Autor: Marcelo Medeiros
Fonte: Jornal do Brasil, 24/01/2005, Outras Opiniões, p. A11

''Na hora em que o pobre conquista um milímetro de espaço, ele incomoda, mesmo que não tenha tirado um milímetro de espaço dos ricos, mas eles ficam incomodados'', declarou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em mais um discurso demagógico, na solenidade para sanção da Lei do Programa de Universidade para Todos.

Não sei de onde o presidente tirou esta conclusão estapafúrdia. Considerando que ele ainda se intitula pobre e foi eleito com os votos dos ricos e dos necessitados, sua trajetória política desmente a sua afirmação. Será que ele não percebe que o que incomoda a sociedade brasileira é a crescente percepção da incapacidade deste governo em administrar o país?

Os programas destinados a combater as desigualdades sociais como Fome Zero, Primeiro Emprego, Bolsa-Escola, Bolsa-Família, assentamento dos sem-terra e outros não atingiram, nem de longe, as metas anunciadas.

O crescimento econômico, verificado no biênio 2003/2004, é a mera conseqüência de uma conjuntura internacional extremamente favorável. A mais favorável dos últimos 20 anos. E nem assim o Brasil se destacou. Crescemos 2,5%, enquanto o Chile cresceu 4,5%, a Venezuela 5%, a Rússia 7%, a Índia 7.,%, a Argentina 8,5% e a China 9,4%. Ou seja, todos os países emergentes tiveram crescimento econômico expressivo, com qualquer tipo de política: ortodoxa, heterodoxa, democrática ou ditatorial. É só escolher.

O que se destaca no governo do PT, transcorridos dois anos, são as crises internas, a ausência de rumo e o encantamento do presidente pelo poder. São os seus discursos eleitorais desconectados da realidade e da importância do cargo.

É também indecorosa a forma como se lida com o rol de mordomias conferidas ao presidente da República. O que culminou com a transformação do Palácio da Alvorada em colônia de férias de adolescentes, amigos do filho do presidente, com direito a transporte em aviões da FAB, passeios na lancha presidencial, além de churrascos e outras farras, tudo pago com o dinheiro público. Na semana passada, chegou ao Brasil o Airbus comprado por 56,7 milhões de dólares. Mais de 150 milhões de reais.

Afirma governador de São Paulo, Geraldo Alckmin: ''A compra do novo avião presidencial - o AeroLula - foi uma escolha errada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva''. E continua: ''Depois que assumiu o governo, (o PT) mudou totalmente o discurso. Isso é muito ruim. Por isso a população acaba tendo pouca credibilidade nos políticos, nas mudanças ao sabor das circunstâncias e não naquelas feitas por valores ou por princípios''.

O Diário Oficial da União de 24 de dezembro publica a contratação, sem concorrência, da empresa Comissária Aérea de Brasília, para o fornecimento anual de refeições a bordo do Airbus por 750 mil reais. Ao preço unitário de 100 reais, são 7500 refeições. Mais de um terço do salário mínimo por cada refeição.

Entre as marcas que o governo do PT deixará para a história está a compra desse avião. Batizado pela aeronáutica de ''Santos Dumont'', chamado pela mídia de ''AeroLula'' é também conhecido, como piada, em tradução livre, adaptada ao gosto nacional, do nome do avião do presidente americano ''Air Force One'', por ''Força Aérea 51''.

O ex-presidente José Sarney, com um pé fora da Presidência do Senado, mas a filha com um pé dentro do ministério petista, justifica a compra: ''O avião não é do Lula é do povo brasileiro, patrimônio do país.'' Será que o sacrificado povo brasileiro, vivendo com um salário insuficiente às suas necessidades básicas, gostaria de incorporar ao patrimônio nacional um avião desse preço para o presidente viajar? Só a decoração custou mais de 10 milhões de dólares.

Todo este noticiário recorrente do oba-oba presidencial, é apenas o reflexo mais nítido de um candidato que chegou à presidência sem preparo, sem projeto e sem competência, e que, aos poucos, vai se distanciando dos seus eleitores.