Título: Em crise, Vasp fica no chão
Autor: Marco Antonio Barbosa, Marcela Canavarro
Fonte: Jornal do Brasil, 24/01/2005, Economia e Negócios, p. A19

Assim como aconteceu no sábado, os vôos programados pela Vasp para o domingo foram cancelados. Duas decolagens (para Recife e São Luís) e duas chegadas (vôos vindos de Foz do Iguaçu e Fortaleza) previstas para o Aeroporto Internacional Tom Jobim não ocorreram. A Vasp informou aos passageiros sobre o cancelamento dos vôos a partir da madrugada de sábado. Segundo a administração do Aeroporto Tom Jobim, nenhum protesto de passageiros foi registrado. Quem precisou de informações sobre vôos da Vasp no domingo, contudo, ficou desamparado. No Aeroporto Santos Dumont, o balcão da companhia estava abandonado. Um cartaz avisava: ''Devido (sic) problemas técnicos nosso sistema encontra-se inoperante''. No Tom Jobim, três atendentes estavam a postos, mesmo sem ter trabalho a fazer.

- No fim do ano passado tivemos muita gente reclamando de vôos cancelados, mas há algumas semanas isso não acontece. Ficamos aqui cumprindo horário e dando informações aos passageiros das outras companhias - disse uma das funcionárias de plantão, que não quis se identificar.

O Ministério da Defesa vai pedir hoje explicações oficiais à Vasp sobre a possibilidade de suspensão definitiva das operações. De acordo com a legislação, a companhia aérea que ficar mais de 180 dias sem voar pode perder a concessão.

Quem comprou passagem para os vôos cancelados deveria ser realocado em aviões de outras companhias. Entretanto, o 0300 da Vasp informava ontem que os bilhetes não estavam sendo endossados pela companhia. As opções oferecidas eram: remarcar a viagem para nova data, obter o reembolso em uma das lojas ou deixar o bilhete em aberto.

No fim da tarde de ontem, a Vasp divulgou nota sustentando que não suspendeu suas operações e que os cancelamentos do último fim de semana atendem a um procedimento normal da empresa para vôos com menos de 50% de ocupação. De acordo com a nota, ''a companhia manterá suas operações dentro do quadro acima descrito e seguirá suas atividades em caráter normalíssimo''.

A empresa também reconheceu o atraso no pagamento dos salários de dezembro, mas reitera que serão pagos ''o mais breve possível''.

Numa operação normal, vôos com menos da metade dos assentos vendidos não são simplesmente cancelados. As empresas costumam arcar com o prejuízo ou acomodar os passageiros em outro vôo próximo. Há também a possibilidade de endossar o bilhete para outra companhia, no horário mais próximo do vôo cancelado.

Segundo informações do Sindicato Nacional dos Aeronautas, uma tripulação de seis pessoas que realizou um vôo para Recife no fim de semana, não pôde voltar para sua base, em São Paulo. Ariovaldo Panadés, presidente da Associação de Pilotos da Vasp, informou que a tripulação foi avisada que retornaria hoje em vôo programado para Guarulhos, com escalas em Fortaleza, Recife, Maceió e Salvador. Panadés, no entanto, não está otimista.

- A Vasp não tem nem disponibilidade de combustível. Como vai ter credibilidade para vender os assentos que faltam para chegar aos 50% de ocupação necessários?

A assessoria de imprensa da Vasp informou que quatro vôos previstos para ontem aconteceriam normalmente, três cargueiros e um de passageiros, partindo de Salvador. O balcão de informações da empresa na cidade baiana e o 0300, no entanto, confirmaram o cancelamento.

A Vasp ainda não comunicou se os 8 vôos diários desta semana também serão cancelados. O Departamento de Aviação Civil (DAC) informou, entretanto, que a paralisação não é definitiva.

Segundo o vice-presidente da Federação Nacional do Turismo (Fenactur), os problemas das agências de viagens com cancelamentos de vôos da Vasp são rotineiros.

- Os cancelamentos constantes complicam as agências de viagem com os consumidores.