Título: Estrada aberta para a soja
Autor: Katia Cortes e Michael Smith
Fonte: Jornal do Brasil, 24/01/2005, Economia e Negócios, p. A18

Governo licitará rodovia para escoar safra do Centro-Oeste

O Brasil, o segundo maior produtor mundial de soja, pretende construir este ano uma estrada que atravessará a Floresta Amazônica para ajudar os produtores rurais a transportar as safras, superando 30 anos de oposição de grupos de proteção ao meio ambiente.

Em março, o governo receberá propostas de empresas que queiram realizar o trabalho de pavimentação de uma estrada que ligará o Mato Grosso - o maior produtor de soja do país - ao Oceano Atlântico por meio de um porto fluvial no Rio Amazonas. A estrada ajudará os produtores a competir com agricultores americanos e argentinos, que gastam cerca de um terço menos no transporte das safras, disse o ministro da Integração, Ciro Gomes.

A pavimentação da estrada - que atualmente é uma estrada de terra cheia de buracos e intransitável durante a maior parte do ano - é fundamental para que o Brasil atenda à meta de superar os EUA como o maior exportador mundial de soja, disse Gomes.

Os produtores do Mato Grosso foram os principais impulsionadores da expansão da soja, cuja produção dobrou desde 1999, e precisam de estradas e portos melhores para crescer ainda mais.

- Os produtores brasileiros precisam de estradas e portos - avalia Sérgio Mendes, diretor da Associação de Exportadores. - Se conseguirmos melhorar isso, o Brasil certamente será o maior exportador de soja no futuro próximo.

Os produtores de Mato Grosso pagam atualmente cerca de US$ 60 por tonelada para transportar a soja por uma distância de quase 1,5 mil quilômetros em caminhões para portos no Sul do Brasil. A quantia é mais do que o dobro do preço pago pelos produtores dos EUA para o transporte da mercadoria.

O governo brasileiro aceitará propostas de empresas do setor agrícola e de outros investidores para financiar o projeto de pavimentação da estrada, que custará US$ 175 milhões. A concessão permitirá que a empresa vencedora instale pedágios ao longo dos 1.340 quilômetros da estrada por um período de 30 anos, informou Gomes.

A preocupação de que uma estrada pavimentada e adequada para o tráfego desencadearia um aumento do desmatamento da Amazônia levou autoridades ligadas ao meio ambiente a impedir o andamento do projeto por mais de três décadas. Atualmente, o governo promete impedir a extração ilegal de madeira e a instalação de fazendas de criação de gado. Além disso, uma licença para essas atividades deve ser emitida este ano, disse Telma Peixoto, porta-voz da autoridade reguladora.

- Estamos monitorando a área, restringindo o desmatamento e incentivando o desenvolvimento - defendeu Ciro Gomes, acrescentando que produtores de soja e fabricantes de produtos eletrônicos da Zona Franca mostraram interesse em apresentar propostas