Título: Airbus presidencial pousa em Brasília
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 16/01/2005, País, p. A6

Em caso de guerra, o novo avião presidencial que pousou ontem pela manhã em Brasília - o Santos Dumont - pode se transformar num posto de comando aéreo para o chefe de Estado, pois dispõe de modernos equipamentos de aviões militares. No entanto, o que mais chamou a atenção dos oficiais da Aeronáutica que foram aguardar a chegada do Airbus ACJ-319 foi o tamanho da cama onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a mulher, Marisa, vão dormir nas viagens internacionais. Pouco mais larga que a mesa de cabeceira, a cama onde o casal vai passar algumas noites mal abrigaria um casal magro. O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos da Silva Bueno, achou a cama de casal muito estreita.

- Ele vai ter que emagrecer - - brincou Bueno, referindo-se ao presidente Lula.

O avião comprado da Airbus tem um equipamento de criptografia para transmissão de informações. É um programa de transformação de dados para ocultar informações entre emissor e receptor. O brigadeiro Bueno não quis confirmar se o avião tem sistema anti-míssil.

- Pode ter, pode não ter... - resumiu o brigadeiro.

O equipamento do avião e as críticas que a oposição tem feito à operação não foram os únicos assuntos sensíveis durante a entrevista do comandante, na Base Aérea de Brasília. O brigadeiro recusou-se a comentar as viagens dos amigos de um dos filhos do presidente Lula em aviões da Aeronáutica, para veranear no Palácio da Alvorada.

O comandante da Aeronáutica também não quis comentar com detalhes o adiamento da compra dos caças supersônicos para a Força Aérea Brasileira, velho sonho dos militares e uma necessidade real, já que os caças Mirage só voam até o fim do ano. Segundo Bueno, o presidente Lula vai marcar reunião do Conselho de Segurança Nacional para tomar uma decisão sobre a compra dos caças. A data da reunião ainda não está marcada.

Lula terá de diminuir suas comitivas de viagem se utilizar só o novo avião. Até agora, o presidente podia levar uma máximo de 90 pessoas no Boeing 707, o Sucatão. O Santos Dumont pode abrigar 55 pessoas, incluindo quatro tripulantes. O gabinete aéreo só tem lugar para sete pessoas, além do presidente. O Santos Dumont custou US$ 56,7 milhões (R$ 153 milhões) e foi comprado sem licitação. A Aeronáutica fez um processo de seleção. A Embraer ficou de fora da licitação, por não dispor de avião semelhante.

O avião tem o símbolo da Presidência na lateral. A cauda é pintada com faixas verde e amarela. O Airbus voa a 650 quilômetros por hora e tem autonomia para 8,4 mil quilômetros. Vai do Brasil à Europa ou aos Estados Unidos sem escalas, e pousa em pistas curtas.

A vida útil do Airbus pode chegar a 50 anos, dependendo das manutenção que, no Brasil, será feita pela TAM, com base num contrato de US$ 15,4 milhões, nos próximos cinco anos.