Título: Pesquisa mede qualidade do ensino
Autor: Rafael Baldo
Fonte: Jornal do Brasil, 20/01/2005, Brasília, p. D8

Dados mostram que pais elogiam matrícula e cobertura da rede pública, mas condenam insegurança e descompromisso

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou os resultados de uma pesquisa qualitativa sobre a opinião dos pais quanto à educação dos filhos. O levantamento foi realizado em cinco capitais brasileiras, incluindo Brasília, entre os dias 15 e 17 de dezembro de 2004 e avaliou as respostas de 1.000 pais com relação à segurança, qualidade, pontos negativos e alternativas no ensino fundamental. Ontem começou a segunda fase a pesquisa, que medirá em 10 mil pais e mães de alunos do ensino público as opiniões refletidas na etapa qualitativa. O levantamento terminará no final de fevereiro. Com os números de todo o Brasil, o Ministério da Educação (MEC) planejará políticas para o aumento na qualidade do ensino básico.

O secretário de Educação Básica do MEC, Francisco das Chagas Fernandes, afirma que a pesquisa reflete o senso comum observado na sociedade, muitas vezes distante da realidade vista pelo governo. Porém, o secretário reconhece a baixa qualidade da educação e as diferenças entre as atuações das Secretarias de Educação.

- Os Estados são autônomos na aplicação das políticas governamentais, mas há casos em que se observa discrepâncias muito grandes. O Ministério da Educação só tem o poder de induzir uma determinada ação na educação - confessa Francisco das Chagas. Para este ano, o secretário prometeu o lançamento de um programa de apoio às Secretarias de Educação de todo o País.

A pesquisa demonstra que há satisfação dos pais com o tamanho e cobertura da rede pública, a facilidade de obter matrícula, a distribuição de livros didáticos e a gratuidade no ensino. Mas as reclamações são duras no que se refere à insegurança das escolas, ao aparente descompromisso de professores, à falta de aparelhamento e ao distanciamento do governo e das Secretarias de Educação.

Alguns comentários anônimos foram colhidos pela Inep. ''Quando estudei tive que ralar muito, hoje é moleza, se passa muito fácil'', descreve um pai de Brasília citado pela pesquisa do Inep. ''Você acha que estudando de escola pública eles vão conseguir entrar na UnB? Lá só entra aluno de escola particular'', reflete uma mãe sobre a oportunidade do filho entrar em universidade.

A secretaria de Educação do Distrito Federal, Maristela Neves, discorda de alguns pontos levantados pela pesquisa do Inep. Com relação à violência e insegurança nas escolas, a secretária acredita ser um reflexo do problema social vivido pelo aluno dentro de sua comunidade.

- A escola é vítima. A violência está na sociedade. Muitas vezes, a criança não aprende os valores de um ato violento, como um pequeno furto, no local onde reside. Como a escola trata o ato como crime, julga-se o ambiente escolar como inseguro - afirma Maristela.

Outra questão é a qualidade do ensino público. Com a formação de cinco mil professores pela UnB até o final de 2006, a Secretaria acredita na melhoria de qualidade a curto prazo. Um projeto de inclusão de crianças na escola a partir de quatro anos começa este ano.

- O ingresso na universidade não é uma questão de qualidade no ensino básico, mas de oportunidade de vagas no ensino superior público - afirma Maristela. Para a secretária, quem passa não é nem da escola pública ou da particular, mas dos cursinhos, completa.