Título: PMDB pede alto e Lula retarda mudanças
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 21/01/2005, País, p. A2

Partido quer mais uma pasta e uma estatal. Reforma fica para fevereiro No dia em que o chefe da Casa Civil, José Dirceu, voltou a operar na articulação política, a cúpula do PMDB pediu alto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva: cobrou mais um ministério e mais uma presidência de estatal. Ouviu que o partido será contemplado com uma pasta com mais ''capilaridade e investimentos'' na reforma ministerial. As mudanças serão concluídas ''apenas depois das eleições para as Mesas da Câmara e Senado'', segundo o presidente.

A conversa não foi conclusiva. Como na audiência da semana passada, Lula ouviu mais do que falou. Embora tenha garantido aos líderes do PMDB no Senado e Câmara, Renan Calheiros e José Borba (PMDB-PR), e ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que a legenda terá tratamento de ''aliado preferencial'', não se sabe ainda se o PMDB terá um terceiro ministério ou se substituirá uma pasta atual por outra mais robusta de verba e cargos.

O que deixou os peemebistas ressabiados foi o fato de Lula ter deixado transparecer na conversa, segundo um dos presentes, que dificilmente vai atender a todas as reivindicações do partido. Hoje a sigla controla os ministérios da Previdência Social e das Comunicações, além da Transpetro, estatal do Sistema Petrobrás. Sonha ainda com os ministérios das Cidades ou Integração Nacional e com a Infraero, estatal que controla os aeroportos em todo o país. O PMDB já até indicou dois nomes ao presidente. Para ocupar uma pasta, o senador Romero Jucá (RR), e para a estatal, o deputado Henrique Eduardo Alves (RN).

Conforme antecipou o Jornal do Brasil, as estatais também entrarão no rateio da reforma. Uma nova presidência de empresa seria uma forma de contemplar a bancada do PMDB na Câmara, mais precisamente o líder José Borba, com a perspectiva de os senadores virem a ser agraciados com o almejado terceiro ministério. Mas Lula resiste à idéia por considerar que seria conferir ''muito poder à legenda'', segundo relato de interlocutores do Planalto.

- O presidente não disse quantos ministérios. Apenas reafirmou que quer nos prestigiar, quer colocar o PMDB numa pasta que comporte mais investimentos, ampliar o espaço do partido - afirmou Calheiros após o encontro no Palácio do Planalto, que durou quase duas horas e meia.

Calheiros deixou o encontro com a impressão de que o presidente já tem a reforma pronta na cabeça. Uma mudança não só para o PMDB mas todos os partidos da bancada governista, teria dito Lula segundo relato do senador. A pasta para a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) ainda não foi anunciada. Roseana é encarada como cota pessoal de Lula. E está cotada para ocupar os ministério da Previdência, Turismo, Comunicações ou até Cidades.

Segundo Calheiros, a questão será definida num próximo encontro. O tema acabou não entrando na pauta da reunião de ontem por causa da presença inesperada de Borba. Sarney prefere tratar do assunto mais reservadamente, tendo como testemunha apenas Lula e Renan. O deputado José Borba foi convidado na última hora graças a articulação política do ministro José Dirceu. A reunião já havia sido agendada com os dois senadores desde anteontem, mas o convite não incluía Borba.

Tão logo tomou conhecimento de que ficaria de fora do encontro, o deputado ameaçou não reconhecer qualquer eventual acordo caso a Câmara não fosse representada. Na manhã de ontem, horas antes da reunião, um telefonema de Dirceu ampliou o convite.

Sobre a eleição na Câmara, Calheiros reiterou que o partido vai seguir o princípio da proporcionalidade, apesar de o presidente da sigla, deputado Michel Temer, não ter garantido o voto no candidato do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP).