Título: Carro-chefe e maior fracasso do governo
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 21/01/2005, País, p. A3

A área social tem sido a grande bandeira e, até por isso, o maior fracasso do governo. Não bastassem os investimentos escassos dos primeiros dois anos de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no alardeado Fome Zero - que, de complexo, sucumbiu, transformando-se no Programa Bolsa Família, unificando as ações sociais - a gestão petista terminou 2004 sob uma enxurrada de escândalos envolvendo a distribuição irregular de benefícios.

Em fevereiro de 2004, quando as críticas ainda não chegavam a ser denúncias, Lula admitiu falhas, planejou levar as ações sociais para grandes cidades, mas mostrou-se otimista. Saudou o então recém-chegado ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e elogiou os demitidos José Graziano e Benedita da Silva. Chegou a dizer que a ''tarefa'' só poderia ser feita por ''quem têm coração, como Graziano e Benedita''. Oito meses depois, viu-se que era preciso bem mais do que isso. Ainda no início do ano passado, Lula determinou a antecipação de metas sociais: o Bolsa Família atenderia 901 mil famílias até o fim de julho. Logo, notícias de falhas e falta de fiscalização na aplicação da verba do programa provaram que números não garantem que a ajuda chegue a quem precisa.

Em outubro, o presidente instalou um conselho de combate à corrupção, destinado a apontar medidas contra o mau uso de recursos, no momento em que se multiplicavam as denúncias de corrupção e de má administração no Bolsa Família. Brasileiros fora dos padrões requeridos recebiam benefícios, enquanto outros, muito pobres, não conseguiam se cadastrar ou não recebiam o dinheiro. Em setembro, Patrus já havia admitido que o programa não exigia freqüência escolar nem fiscalizava o cartão de vacina. Foi desautorizado por Lula e voltou atrás. Mas o ministro do Controle e da Transparência, Waldir Pires, reconheceu que a Controladoria da União, embora constate irregularidades, ''não tem poder nem de julgar nem de prender'' pessoas e autoridades envolvidas nas denúncias.

No fim de outubro as denúncias de inclusão irregular de famílias, especialmente ligadas a prefeitos e secretários, e uso eleitoral do Bolsa Família revelaram uma crise que culminou com a saída do governo da secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Social, Ana Fonseca, e do assessor especial da Presidência, Frei Betto. O Planalto suspendeu o Bolsa Família em diversos municípios. Lula reconheceu que o governo não tem como controlar totalmente os programas sociais. Em novembro, pediu ajuda aos prefeitos eleitos.