Título: Mais de R$ 7 trilhões para chegar ao 1º Mundo
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 21/01/2005, País, p. A3

Mais de R$ 7 trilhões. Esse é o tamanho da conta que o Brasil precisa pagar até 2020 para atingir um padrão de inclusão social avançado, já conquistado por países de Primeiro Mundo, como o Japão e a França. Por ano, seriam R$ 450,7 bilhões. Para chegar a esses montantes, o novo volume do Atlas da Exclusão Social - Agenda não liberal da inclusão social no Brasil considera os investimentos necessários para o país se aproximar do padrão internacional de oferta de equipamentos e serviços públicos, como ensino, saúde, previdência social e trabalho decente.

Os recursos necessários - equivalentes a 27,6% do PIB (Produto Interno Bruto) - seriam aplicados em oito complexos sociais selecionados: educação, saúde, habitação, cultura, informática, pobreza, trabalho decente e previdência social.

O atlas alerta que, se o Brasil não fizer os investimentos necessários para melhorar os indicadores de exclusão social, chegará a 2020 numa situação pior do que a atual.

- Se nada for feito corremos o risco de repetir em 2020 uma situação de inclusão social inferior à que temos hoje. Ou até pior - disse o economista Márcio Pochmann, autor do atlas, com mais 16 pesquisadores de universidades brasileiras.

Segundo ele, ciclos continuados de crescimento econômico não garantem inclusão social.

- O Brasil já passou por longos períodos de crescimento econômico. Mas não conseguiu melhorar a inclusão.

Pochmann diz ainda que as tentativas brasileiras de organização econômica ''levaram à desorganização social''.

- A área econômica tem uma equipe, trabalha com metas e cronogramas que muitas vezes levam à desorganização social. Na área social, em geral, há uma ausência de metas a serem atingidas.

O economista admite que a cifra a pagar para melhorar a inclusão social no Brasil é alta.

- É preciso haver uma inversão de prioridades. Há um fracasso dos governos brasileiros para enfrentar os problemas sociais.

No caso do emprego, o livro considera que o Brasil precisa chegar em 2020 à situação atual do Japão em termos de oferta de ocupação decente em remuneração e jornada de trabalho.

Para chegar ao padrão japonês, seria necessária a geração de 56,3 milhões de empregos até 2020. De acordo com o livro, essa meta pode ser alcançada se o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil crescer num ritmo de 5,4% ao ano até 2020.

Caso contrário, o número de pessoas com déficit de trabalho decente, desempregados e ocupados com remuneração ou jornada irregulares, poderá saltar de 22,3 milhões de pessoas (número de 2002) para 34,8 milhões em 2020.