Título: Auditor duvida que apuração vá adiante
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/01/2005, País, p. A4

O relatório de Auditoria 014/2004 da Conab inclui entre as irregularidades o pagamento a empregado morto e compras de itens não autorizados. Mas é pouco provável que o Ministério da Agricultura investigue com profundidade as irregularidades na empresa e responsabilize os envolvidos, acredita um dos auditores do governo, alegando que Luís Carlos Guedes, presidente da Conab até o fim do ano passado, foi promovido ao cargo de secretário-Executivo do Ministério da Agricultura.

Na conta ''créditos a receber'' da Conab, há o registro de um pagamento em favor de um ex-empregado, falecido em abril de 2003, ''pendência não solucionada'' pela companhia.

Na conta ''confecção de uniformes, bandeiras e flâmulas'', os auditores encontraram quatro pagamentos para a ''confecção de folders'' da empresa. Os auditores recomendam que os empregados responsáveis pelas classificações contábeis sejam devidamente orientados para que as despesas da Conab ''reflitam a realidade dos fatos''.

A administração da Conab gerou prejuízos milionários. No exercício de 2001, a empresa foi alvo de quatro autuações fiscais, que juntas somam mais de R$ 8 milhões. Segundo os auditores, as autuações foram objeto de auditoria em 2003, mas a resposta oferecida pela contabilidade da Conab ''foi subjetiva e insuficiente''. Os auditores recomendam apurar as responsabilidades pelas multas impostas. O total da dívida da Conab com autos de infração do ICMS em Mato Grosso, incluindo valores devidos de ICMS, multas e juros, totalizavam R$ 135 milhões até agosto de 2003.

A assessoria de comunicação do Ministério da Agricultura não quis se pronunciar, apesar de ter sido informada quatro vezes de que o Jornal do Brasil publicaria hoje reportagem mostrando que a pasta sempre foi informada das irregularidades na Conab, mas as investigações quase nunca resultam em punições.

Segundo servidores da Conab, o convite para que Luís Carlos Guedes assumisse o cargo de secretário-Executivo teria sido feito pelo próprio ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. O atual presidente da Conab, Jacinto Ferreira, teria sido uma escolha pessoal de Guedes. Senadores do PMDB, segundo fontes da própria Conab, tentam negociar a presidência da companhia na reforma ministerial.

A Conab divulgou nota ontem informando que a Secretaria Federal de Controle e a Controladoria Geral da União emitiram certificados considerando as contas da empresa regulares, ''com ressalvas'' que não se referem a problemas de balanço. O Ministério da Agricultura, informa a nota, encaminhou as contas para o Tribunal de Contas da União, onde estão sendo analisadas.

De novo, a Conab informa que houve ''divergências de interpretação de critérios contábeis''. Na nota, a Conab confirma que os casos Beefimex (ocorrido em 1993), Terminal Pesqueiro de Santos e Chanceller Transportes (1982) estão até hoje no Ministério da Agricultura para ''designação de comissão de sindicância''.