Título: Estoques reduzem risco de inflação
Autor: Loureiro, Ubirajara
Fonte: Jornal do Brasil, 01/04/2008, Economia, p. A18

Os estoques e o nível da capacidade instalada das indústrias descartam os temores do Banco Central de descontrole da inflação. Pelo menos é o que acham economistas ouvidos pelo JB. Os especialistas afastam ainda a necessidade de aumento imediato de juros para conter uma suposta pressão inflacionária pelo excesso de demanda. Sondagem da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que subiu de 84,7% para 85,2% entre fevereiro e março o nível de utilização do parque industrial. O material estocado está nos maiores volumes dos últimos anos.

A preocupação das autoridades foi exposta na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que apontou a possibilidade de alta para a Selic, caso venha a verificar-se descompasso entre demanda e oferta.

A situação requer acompanhamento pontual, na opinião do economista Aloísio Campelo, da Coordenação de Sondagens Conjunturais do Instituto Brasileiro de Economia, da FGV mas, na verdade, em seu entender, caracteriza um "círculo virtuoso" da economia brasileira: cresce a demanda, os estoques das empresas estão satisfatórios desde março do ano passado e aumentaram ainda mais a partir de julho, e aumenta a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação. Mês passado, o Índice de Confiança da Indústria, que indica intenção de contratar mão-de-obra, teve alta de 5,8%.

Campelo destaca que, mesmo com a previsão de aumento anual de 6%, está longe o temido descasamento entre produção e consumo.

O economista não acha que o aumento contínuo da utilização da capacidade de produção represente um risco:

¿ Em 1973, o uso da capacidade instalada chegou a 90%, sem qualquer repique de inflação. Pelo contrário, foi o chamado período do "milagre econômico" , com grande expansão do consumo via crédito direto ao consumidor ¿ lembrou.

Para Aloísio Campelo, isso não exclui a necessidade de acompanhamento de dois pontos. Primeiro, se a indústria continua crescendo de maneira equilibrada, com estoques adequados à demanda. Depois, se a situação mundial, em caso de turbulência maior, pode afetar as exportações e o nível de emprego no Brasil. O desequilíbrio desses fatores poderia exigir "ajuste fino" para conter o consumo, diz Campelo. Ele sugere contenção nos gastos do governo como ferramenta para enfrentar a situação, sem aumento da taxa de juros. A proposta é a mesma do ex-presidente do Banco Central Carlos Geraldo Langoni, feita na edição de domingo do JB.

Antônio Carlos Lemgruber, também ex-presidente do BC, entende que um reajuste para cima na taxa Selic só iria atrapalhar.

¿ Só falta melhorar a taxa de câmbio para incentivar as exportações e estimular a substituição de importações ¿ afirma.

Já o professor Roberto Simonard Filho, da área de Economia da Universidade Cândido Mendes, acha que a conjugação do aumento de crédito com a maior utilização da capacidade da indústria configura risco moderado de inflação. Ele também considera prematura elevação preventiva da Selic, porque isto, aliado à queda dos juros nos EUA, poderia aumentar o ingresso de capital especulativo no país e depreciar ainda mais a cotação do dólar em prejuízo das exportações brasileiras.