Título: Estatais viram moeda de troca
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 19/01/2005, País, p. A3

Lula quer oferecer empresas a partidos governistas para não afetar a continuidade administrativa nos ministérios mais cobiçados

A idéia de envolver as estatais na reforma ministerial é mais um ingrediente nas disputas políticas em Brasília. No início da semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará chegar esta hipótese a ministros e líderes dos partidos da bancada governista. As mudanças no seio do governo ocorrem também nas diretorias das agências reguladoras. A idéia de Lula de abrir o leque da reforma seria a de preservar o comando de alguns ministérios e evitar a descontinuidade administrativa em áreas consideradas vitais para a saúde do governo. Também seria uma forma de acomodar alguns petistas que porventura vierem a desembarcar de algum ministério.

A dança das cadeiras deve passar pela presidência de pelo menos quatro estatais: Infraero, Transpetro, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. Mas não estão descartadas modificações na Eletrobrás. A Petrobras e o BNDES, presididas pelos petistas José Eduardo Dutra e Guido Mantega, são as únicas que devem ficar de fora das mudanças.

A disputa pelas vagas já fez aumentar a temperatura nos bastidores do poder. Desde o início da semana, o PT, que, não raro, criticava o governo Fernando Henrique por lotear as estatais entre apadrinhados políticos, está novamente em franca negociação de cargos, numa cena de farta distribuição de listas de nomes e currículos. O PMDB deseja assumir a Infraero, empresa que administra os aeroportos de todo o país, atualmente presidida pelo ex-senador Carlos Wilson. Mas segundo um ministro ligado a Lula, o posto já estaria sendo negociado com o PTB.

- Essa época é assim. Esta é uma notícia típica de recesso do Congresso - se limitou a dizer ontem Carlos Wilson, questionado sobre o troca-troca.

Restaria ao PMDB, de acordo com a mesma fonte, permanecer no comando da Transpetro, empresa de transporte do Sistema Petrobrás. Com uma pequena alteração. A cota passaria a ser dos deputados do partido.

A presidência, hoje exercida pelo ex-senador Sérgio Machado (PMDB), seria ocupada por uma pessoa indicada pelo líder do PMDB na Câmara, deputado José Borba (PMDB-PR), diante da perspectiva de os senadores do partido virem a ser contemplados com mais um ministério.

Nessa equação, Carlos Wilson poderia ser deslocado para a presidência da Caixa Econômica Federal, no lugar de Jorge Mattoso, uma indicação da ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Mas Marta não ficaria de mãos abanando. Durante a semana, o presidente sinalizou a pessoas ligadas à ex-prefeita que a petista poderá indicar um afilhado político para um ministério ainda a ser definido.

A presidência do Banco do Brasil, ocupada interinamente por Rossano Maranhão desde a demissão de Cássio Casseb, também é outra estatal que deve entrar na partilha. O comando da instituição financeira é acalentado por todos os partidos da base aliada.

O afã dos partidos políticos pelos comandos das estatais é proporcional ao poder econômico e político que elas conferem. Hoje, essas empresas têm a prerrogativa de definir regras em áreas essenciais da economia.

A Infraero, por exemplo, administra 66 aeroportos, 81 unidades de apoio à navegação aérea e 32 terminais de logística de carga. A Transpetro atua em duas áreas de negócio: transporte marítimo, dutos e terminais.

Já a Eletrobrás é a maior empresa de geração e transmissão de energia elétrica do país, com faturamento anual de R$ 22 bilhões. A Caixa Econômica Federal é um atrativo por ser o principal agente da habitação, financiando 88% do total de unidades. Ainda possui 20 milhões de contas em cadernetas de poupança. O Banco do Brasil possui ativos de R$ 213 bilhões e uma carteira de 15 milhões de clientes.

As definições, no entanto, só devem ocorrer depois do carnaval, resolvida o imbróglio em torno da disputa interna do PT pela presidência da Câmara.