Título: O preço da morte
Autor: Raposo, Fred
Fonte: Jornal do Brasil, 02/04/2008, Internacional, p. A21

O agravamento do estado de saúde de Ingrid Betancourt precipita mudanças no conflito colombiano, com importantes desdobramentos para o entorno regional. Nenhum dos atores envolvidos tem interesse em ser responsabilizado pela morte da senadora. Além da tragédia humanitária e comoção internacional, a morte de Ingrid traria um enorme custo político, dado seu atual simbolismo.

Para as Farc, a franco-colombiana é talvez a última grande moeda de troca capaz de assegurar a sobrevivência política do grupo pós-conflito. Com Ingrid morta em cativeiro, provavelmente não restaria no mundo quem apoiasse o movimento iniciado há quase 50 anos. O fato praticamente sepultaria as chances de as Farc se transformarem em um partido político, fechando todas as portas para o diálogo.

Para o governo colombiano, por sua vez, tão pouco interessa a morte da senadora, não só por razões humanistas, mas porque isso poderia ser interpretado pela opinião pública nacional e internacional como corolário de uma postura intransigente tomada por parte de Álvaro Uribe. Isso explica em grande parte sua pressa em mobilizar saídas para o problema com gestões junto ao governo francês.

O protagonismo da França neste caso desloca e enfraquece o papel de mediação exercido pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez. No entanto, a aliança entre Uribe e Sarkozy no episódio, que representa até certo ponto uma nova correlação de forças, não deve ser vista como uma ameaça à região. Muito pelo contrário, a aliança deve credenciar o presidente francês como mediador do conflito, ao mesmo tempo em que motiva o governo brasileiro a assumir um papel mais importante no processo, tendo em vista a necessidade de articulação sul-americana e as excelentes relações mantidas entre Brasil, França e Colômbia.