Título: Ação conjunta para libertar Ingrid
Autor: Raposo, Fred
Fonte: Jornal do Brasil, 02/04/2008, Internacional, p. A21

Governos da França e Colômbia se comprometem com missão humanitária, sem aval das Farc

Os governos francês e colombiano se comprometeram ontem a realizar uma ação conjunta para libertar Ingrid Betancourt, refém há seis anos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Com notícias do agravamento da saúde da franco-colombiana, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, enviou uma missão humanitária para avaliar a condição médica da seqüestrada, que contaria com a suspensão das operações militares do Exército colombiano na região, de modo a facilitar a ação.

O drama vivido por Ingrid fez com que Sarkozy elevasse ontem o tom das críticas à guerrilha. Em mensagem televisionada, o presidente francês exigiu a libertação imediata da refém e dirigiu-se ao chefe das Farc, Pedro Antonio Marín ¿ também conhecido como Manuel Marulanda ou Tirofijo ¿ ao dizer que responsabilizará a guerrilha pela possível morte de Ingrid.

¿ Espero uma prova de humanidade sem a qual tudo se complicará de novo ¿ cobrou Sarkozy. ¿ Basta uma decisão de sua parte para salvar uma mulher da morte e manter a esperança de todos os que continuam detidos. Tome esta decisão, liberte Ingrid Betancourt.

O presidente francês afirmou que a refém das Farc "está em perigo de morte iminente e não tem forças para resistir a um cativeiro interminável" que se transforma em "tragédia". O Comitê de Apoio francês a Ingrid Betancourt informou que a franco-colombiana está em greve de fome há mais de um mês.

A ação surgiu depois de uma conversa telefônica ontem à tarde entre Sarkozy e o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. A proposta do presidente francês foi aceita de imediato por Uribe, que se comprometeu em suspender operações militares na região assim que fossem definidas as coordenadas da refém.

Não ficou claro, no entanto, se a missão, de teor humanitário, conta com o aval das Farc.

Bomba-relógio

O professor de ciências políticas da Universidade de Brasília, David Fleischer, acredita que a libertação de Ingrid dependerá de como os guerrilheiros vêem o próprio futuro.

¿ As Farc carregam esse ônus, de que a Ingrid é uma bomba-relógio caso morra nas suas mãos ¿ analisa Fleischer. ¿ Por outro lado, seria uma chance de iniciar uma transição para o terreno político, no sentido de virar um partido, como já aconteceu antes, na Venezuela.

O especialista lembra que a libertação da refém aumentaria a popularidade de Sarkozy na França e reforçaria a importância de Uribe na América Latina.

¿ Isto reduziria o poder de barganha do presidente venezuelano Hugo Chávez, por mostrarem maior habilidade de negociação ¿ acrescenta Fleischer.

O Itamaraty afirmou não haver convite do governo colombiano no sentido de auxiliar as negociações ou participar como observador. Em dezembro, o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, acompanhou operação de resgate que acabou suspensa.