Título: O panorama segundo Bernanke
Autor: Grynbaum, Michael M.
Fonte: Jornal do Brasil, 03/04/2008, Economia, p. A17

Pela primeira vez, o presidente do Fed admite recessão americana já neste semestre

Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed na sigla em inglês), banco central americano, apresentou sua análise da economia ontem de manhã, e alertou o Congresso que o crescimento econômico tem grandes chances de ficar estagnado ¿ e talvez até retraído ¿ no primeiro semestre.

No primeiro pronunciamento público desde que o Fed orquestrou uma verdadeira operação de salvamento sem precedentes para o Bear Stearns, Bernanke defendeu as ações do banco central contra as acusações de "risco moral" e admitiu a existência de problemas consideráveis na economia.

O executivo também disse que as medidas do Fed para resgatar a confiança nos mercados ajudaram, de alguma forma, a estabilizar a situação e, provavelmente, devem estimular uma recuperação econômica depois do verão. Ele alertou, contudo, que a turbulência atual dificulta a previsão do panorama econômico.

¿ A incerteza da previsão é relativamente alta e os riscos de um declínio continuam ¿ comentou no Comitê Conjunto Econômico.

Segundo Bernanke, parece que agora o Produto Interno Bruto (PIB) não vai crescer muito na primeira metade de 2008 e pode até se retrair um pouco.

Inflação

Mas pela primeira vez em meses, Bernanke omitiu qualquer comentário de que o Fed estava inclinado a estender a seqüência de reduções de juros. De acordo com ele, a inflação continua preocupando, o que pode reduzir a flexibilidade do Fed para reduzir taxas.

¿ Esperamos que a inflação fique moderada nos próximos trimestres. A incerteza sobre o futuro da inflação aumentou. É necessário monitorar a evolução da inflação cuidadosamente nos próximos meses.

Bernanke apresentou ainda uma lista dos infortúnios econômicos futuros. O presidente estima que a taxa de desemprego cresça, as folhas de pagamento encolham e a construção de casas diminua.

E mesmo depois de semanas de esforços para restaurar a confiança nos mercados de crédito, o executivo admitiu que os bancos e outras instituições financeiras continuam hesitando em emprestar, o que causa problemas para a economia.

¿ Os mercados financeiros continuam sob estresse considerável. A capacidade e vontade de algumas grandes instituições para estender novo crédito permanece limitada.

Ele citou tensões em uma gama de mercados de crédito, incluindo aqueles de dívida corporativa, bônus municipais, créditos educativos e hipotecas lastreadas pelo governo, mas acrescentou que estava confiante nos prospectos de longo prazo da economia.

Na audiência, os legisladores atacaram Bernanke com perguntas sobre as implicações legais e regulatórias do salvamento do Bear Stearns. O presidente defendeu as ações do Fed contra as acusações de risco moral, que alguns críticos evocaram exigindo que o banco sofresse as conseqüências de apostas ruins em hipotecas subprime.

"Não salvamos o Bear"

¿ Nós não salvamos o Bear Stearns. Os acionistas do banco tiveram uma perda muito significativa. Uma empresa de 85 anos perdeu sua independência e foi adquirida por outra firma. Muitos empregados do Bear Stearns, como vocês sabem, estão preocupados com seus empregos ¿ explicou.

Para o executivo, as conseqüências de permitir que o Bear entre em colapso teriam causado problemas maiores para os mercados de crédito e confiança econômica.

O presidente disse que o Fed não sabia da gravidade da falta de capital do Bear até 24 horas antes de seu quase colapso. BlackRock, firma de consultoria em investimento, foi contratada para avaliar os títulos do Bear em uma taxa não especificada, segundo o executivo. De acordo com Bernanke, BlackRock disse que os títulos do banco poderiam ser vendidos pelo valor total segundo uma base bem calculada.

Bernanke parou de repente de endossar a proposta do governo Bush para recuperar a infra-estrutura regulatória financeira.

¿ O plano do Tesouro é um primeiro passo muito interessante e útil. Acho que todos concordamos que haverá pouca discussão e análise antes de estarmos prontos para fazer mudanças maiores em nossa estrutura regulatória.